Título: UE retomará habilitação de empresas de pescado do Brasil
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 18/04/2008, Agronegócios, p. B14

A União Européia (UE) decidiu ontem que voltará a aceitar pedidos de habilitação de produtores brasileiros para exportar pescado aos seus 27 Estados-membros, após dois anos de suspensão. A decisão, anunciada por Bruxelas ao governo brasileiro, coincide com a temporada de pesca no Nordeste e abre perspectiva de novas empresas exportarem mais lagostas e outras espécies, ajudando a frear a queda contínua das exportações do pescado brasileiro desde 2004.

A UE suspendeu novas habilitações em 2006, depois de uma missão de veterinários europeus ter constatado problemas sanitários no setor. Desde então, a missão brasileira em Bruxelas negociava a retomada das vendas.

Nesse período, apenas empresas adaptadas às exigências feitas por Bruxelas podiam exportar. Anteriormente, havia 80 estabelecimentos habilitados.

Agora, dez novas empresas de pescado já estão na fila para obter a habilitação para exportar. Além disso, na próxima semana será realizada em Bruxelas a maior feira de produtos de pescado do mundo, o que pode ampliar os negócios para os brasileiros, uma vez que a questão sanitária foi solucionada.

As exportações brasileiras de pescado vêm caindo desde 2004, enquanto as importações aumentam. Em 2007, as venda externas alcançaram US$ 311 milhões, 15,5% menos que em 2006, situação atribuída à valorização do real, concorrência com o yuan desvalorizado e doenças nas zonas brasileiras de cultivo a partir de 2004.

As exportações de camarão começaram a declinar em 2003, por causa de menor produção em cativeiro (de 90 mil toneladas em 2003 para 70 mil em 2007). O destino, que era principalmente os EUA (48% em 2002), mudou para a UE (90% em 2007) por causa de barreiras americanas. O Japão é o segundo maior importador de camarão brasileiro (11%).

Já as importações subiram US$ 561 milhões, alta de 26%, graças ao maior consumo de bacalhau, merluza e salmão. A balança comercial de pescado foi negativa em US$ 250 milhões, uma piora de US$ 171 milhões em relação a 2006.

O preço médio do pescado subiu 16 % desde 2006, e o custo do pescado importado também aumentou 8 % no período, por conta da demanda superior à oferta.

O pescado ainda não é um grande negócio no Brasil. O mercado é estimado em US$ 3,1 bilhões, com produção de 1,05 milhões de toneladas em 2007. O país participa com apenas 0,5 % das exportações mundiais do setor.

Mas especialistas vêem enorme potencial, a começar pela possibilidade de aumentar em quase 100 vezes as exportações. Isso poderia ocorrer em função do tamanho do mercado internacional de pescado para consumo humano, ração animal e outros usos. Foi de US$ 65 bilhões em 2005, mas a FAO estima que pode dobrar em volume nos próximos anos até 2030 e triplicar em valor para US$ 195 bilhões. A expectativa é de que a demanda mundial por pescados aumente em 90 milhões de toneladas até 2030, para 190 milhões .

Assim, o setor no Brasil terá, nas próximas duas décadas, enormes oportunidades se usar apenas 1% das águas represadas (públicas e privadas, que somam cerca de 10 milhões de hectares).