Título: Lula recebe com tranqüilidade a alta de 0,5 ponto na taxa Selic
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Fonte: Valor Econômico, 18/04/2008, Finanças, p. C2

Lula aceitou as explicações de que, com um aumento maior da taxa agora, o prazo do ajuste pode ser mais curto O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu com relativa tranqüilidade a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), de elevar em 0,5 ponto percentual a taxa de juros Selic, que passou a ser de 11,75% a partir de ontem. "Para Lula, seja o que for o aumento, e de quanto for, ele sabe que será um ajuste. Ele aprendeu que não se deve fazer marola com a questão dos juros", comentou um auxiliar muito próximo do presidente.

"Lula mantém o que disse na Holanda (onde esteve na semana passada), e que acabou sendo mal interpretado, de que o mundo não vai se acabar com o aumento maior dos juros", disse a autoridade do governo.

Lula, nesta avaliação, entendeu e aceitou bem as explicações segundo as quais, fazendo aumento maior agora, o prazo do ajuste pode ser mais curto e, com isto, afetar menos os investimentos.

Na noite de quarta-feira, terminada a reunião do Copom, o presidente do Banco central, Henrique Meirelles, telefonou para Lula para explicar as razões do aumento de 0,5 ponto percentual, o dobro da elevação esperada pela maioria do mercado, de 0,25 p.p. Meirelles explicou ao presidente que o Copom decidiu por um aumento "incisivo" para controlar as expectativas de inflação e, com isso, poder fazer um ajuste mais curto e menos intenso na Selic. Assim, espera-se que a retomada da trajetória de elevação dos juros não seja longa o suficiente para afetar as decisões de novos investimentos.

O Copom avaliou que as expectativas de inflação estão se deteriorando e que os aumentos de preços, que começaram no atacado já estão contaminando os preços do varejo, empurrando para cima o IPCA, índice de inflação da meta oficial. Esperar a próxima reunião, daqui a 45 dias, como chegou a ser sugerido por economistas do próprio governo, seria agir tarde demais sob o risco de se perder o controle, entenderam os membros do comitê.

Há uma grande diferença no mecanismo de acomodação de choques quando a economia está com moderado ritmo de atividade de quando ela está bem aquecida, analisaram os diretores do BC. Se houve um choque nos preços dos alimentos - e o Copom entende que não é só nesse setor que a inflação cresce -, seria compreensível o BC procurar acomodar esse choque na banda de tolerância de 2 pontos percentuais (para cima e para baixo do centro da meta, de 4,5%). O Copom , porém, avaliou que, como a economia está aquecida no limite, os preços que subiram não vão mais cair, a não ser que se quebre a expectativa altista da inflação.

O Palácio do Planalto se preocupa, porém, com os efeitos que a elevação da Selic vai produzir na taxa de câmbio, acentuando a valorização do real. "Tem problema no câmbio e deve vir algo aí para segurar", indicou uma autoridade do governo, que vê, no atual debate da política econômica, posições diferentes. Há os que querem reduzir a relação dívida líquida do setor público/Produto Interno bruto (PIB) pela diminuição da dívida; e outra ala que advoga a diminuição dessa relação, hoje na casa dos 42%, pelo aumento do produto, com incentivos ao aumento do consumo e da produção. "O governo busca o equilíbrio entre essas visões", conclui a fonte.