Título: Moinhos querem mais trigo dos EUA e Canadá
Autor: Rocha , Janes
Fonte: Valor Econômico, 24/04/2008, Brasil, p. A2

Os moinhos de trigo brasileiros vão pedir ao governo a liberação da importação de mais 3 milhões de toneladas de trigo dos Estados Unidos e Canadá para suprir a falta do trigo da Argentino, disse ontem Luiz Martins, presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo). O governo já havia liberado de tributos a importação de 1 milhão de toneladas daqueles países há cerca de dois meses.

Há 40 dias a Argentina proibiu novos embarques do produto para garantir a demanda doméstica e evitar a alta dos preços. O país vizinho é o maior fornecedor de trigo ao Brasil, que importa 6 milhões de toneladas anualmente, das 10 milhões que consome. Do total importado, 4 milhões vêm da Argentina. Os importadores brasileiros já haviam comprado todo o lote de 1 milhão dos Estados Unidos e Canadá quando o governo derrubou as tarifas e agora vão ter que buscar os 3 milhões que faltam.

Martins, que participou de uma reunião técnica na Secretaria de Indústria argentina em Buenos Aires para discutir o fornecimento de trigo, disse que a Abitrigo pretende solicitar ao governo brasileiro "que nos permita importar esse volume de trigo para abastecer nosso mercado sem alíquota, porque não sabemos quando haverá trigo argentino".

O governo brasileiro vem há meses cobrando da Argentina maior previsibilidade e garantia de fornecimento do produto já que não é a primeira vez que as vendas de trigo são suspensas ou atrasadas como forma de controlar os preços internos. O problema agora é que o governo argentino está em meio a uma disputa política com os agricultores em geral por conta de um aumento nos tributos sobre as exportações de soja. Há quase um mês as lideranças rurais se reúnem semanalmente com altos funcionários do governo para definirem uma nova política agrícola e as regras para a liberação das exportações, não só de trigo, mas também de carne e leite, que estão fechadas. Até agora não houve avanço nas negociações e os agricultores ameaçam inclusive voltar a paralisar suas atividades a partir de 2 de maio - como fizeram durante 21 dias até 25 de março - se não chegarem a um acordo com o governo.

"A Argentina é nosso principal fornecedor e queremos que continue assim", disse terça-feira o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ivan Ramalho. "Mas é necessário que tenhamos previsibilidade neste fornecimento porque envolve o abastecimento e até o controle da inflação", disse Ramalho.