Título: Câmbio alivia alta do combustível para aéreas brasileiras
Autor: Campassi, Roberta
Fonte: Valor Econômico, 24/04/2008, Empresas, p. B2

O sinal vermelho no setor aéreo mundial acendeu com os contínuos recordes na cotação do petróleo. No Brasil, espera-se que as companhias aéreas registrem um forte crescimento na conta do combustível, que pode se transformar em aumento no preço das passagens. Ao menos nas operações domésticas, porém, as empresa nacionais ainda contam com a desvalorização do dólar para compensar o avanço do combustível.

"As companhias brasileiras ainda não estão numa situação alarmante como a que se vê entre as empresas aéreas no exterior", afirma Daniela Bretthauer, analista de aviação do banco Goldman Sachs. "Mas elas vão sofrer um impacto grande com aumento do preço do petróleo, ainda que isto não seja tão visível agora", diz. O combustível costuma ser o maior gasto na conta de uma empresa aérea. No quarto trimestre do ano passado, esse item representava 30% e 36% dos custos operacionais da TAM e da Gol, respectivamente.

"O peso do combustível certamente aumentará", afirma André Castellini, sócio da consultoria multinacional Bain & Company, que presta serviços para a TAM. "O produto aéreo está ficando mais caro e o custo, em algum momento, vai ter que ser repassado para o valor das passagens." Segundo Castellini, as empresas aéreas terão que encontrar um ponto de equilíbrio para que o aumento de preços não comprometa a demanda e a ocupação dos vôos de forma significativa. Para Bretthauer, o aumento das tarifas já está sendo sentido.

Por enquanto, as companhias brasileiras obtêm um certo alívio com a desvalorização do dólar, especialmente nos vôos domésticos. Entre janeiro e abril, a queda na cotação da moeda americana frente ao real foi de aproximadamente 6,5%. O efeito é positivo no preço do querosene de aviação (QAV), derivado do petróleo usado pelas empresas aéreas, uma vez que seu preço de referência é cotado em dólar. O QAV vendido no Brasil avançou 13,1% entre 1º de janeiro e 1º de abril, em reais. Sem o efeito da desvalorização da divisa americana, o avanço do combustível teria sido de aproximadamente 20,5%.

No entanto, quanto mais vôos internacionais a empresa aérea tem, menos ela se beneficia da vantagem cambial. A TAM, por exemplo, que obtém quase 40% de sua receita com operações no exterior, tem boa parte das despesas pagas diretamente em dólar e outras moedas estrangeiras. A companhia é a única que tem vôos de longa distância, depois que a Varig e a OceanAir cancelaram esse tipo de operação. A Gol e a Varig têm vôos para a América do Sul.

Procuradas, a TAM e a Gol não deram entrevista sobre a questão das cotações do petróleo. Ontem, com as notícias negativas do setor aéreo no exterior (ver ao lado), as ações da TAM fecharam em queda de 3,2%, para R$ 33,20. Os papéis da Gol caíram 0,86%, para R$ 24,10.

Para as empresas regionais, que têm porte menor e menos escala para absorver custos, a situação ainda é administrável, segundo Apostole Chryssafidis, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Transportes Aéreos Regionais (Abetar). "A queda do dólar está ajudando. O problema é que o petróleo não pára de subir", diz. Ele também afirma que os preços no Brasil ainda não sofreram aumentos tão fortes quanto no mercado internacional porque a Petrobras evitou o reajuste do QAV no mesmo nível visto no exterior.

A Petrobras altera o preço do QAV no início de cada mês e, tradicionalmente, não repassa as altas ou quedas no preço internacional do combustível imediatamente. Mas as cotações do QAV no Golfo Americano (US Gulf Coast), usadas como referência no Brasil, subiram 17% entre janeiro e o começo de abril. Mostram, portanto, que o reajuste da Petrobras, sem o efeito do câmbio, foi até um pouco maior.