Título: Duplicação de rodovia é obra prioritária
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 24/04/2008, Especial, p. A20

Do centro de Maricá até o portão de entrada das obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) são cerca de 35 quilômetros. De automóvel, a uma velocidade média inferior a 50 quilômetros por hora, a reportagem do Valor percorreu a distância em 45 minutos. Dadas as péssimas condições da maior parte do percurso, e considerando que os últimos três quilômetros até o canteiro de obras não têm pavimento, é impossível percorrer em segurança o trajeto em menos tempo.

O empresário Antônio Luiz Rocha Cavalcanti, do setor imobiliário, avalia que será possível fazer o mesmo percurso em 20 minutos, se forem feitas obras viárias adequadas. A principal delas é a repavimentação e duplicação da rodovia RJ-114 que liga Maricá a Itaboraí. O trecho de 26 aproximadamente 20 quilômetros entre o cruzamento da RJ-116 e o encontro com a BR-101, já em Itaboraí, é estreito, sinuoso, esburacado e sem acostamento.

A inclusão da RJ-114 no Arco Rodoviário do Rio de Janeiro, obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que pelo traçado atual vai ligar a BR-101, em Itaboraí, ao Porto de Sepetiba, em Itaguaí, é reivindicação geral na cidade, do atual prefeito ao candidato mais cotado à sua sucessão, Washington Quá Quá.

"A entrada da RJ-114 no Arco Rodoviário é prioridade absoluta", disse Quá Quá. A tese é que sem ir de um ponto no litoral (Itaguaí) a outro ponto litorâneo (Maricá), o Arco será incompleto, uma tese já defendida pelo ministro das Cidades, Márcio Fortes de Almeida. Segundo o candidato petista, já está em curso uma mobilização da bancada do Rio de Janeiro no Congresso Nacional para viabilizar a obra.

Não basta, contudo, duplicar a RJ-114 para viabilizar Maricá como um novo pólo de desenvolvimento urbanístico. O município é pessimamente servido de vias de transporte, inclusive para o distrito de Ponta Negra, considerado a jóia da coroa de uma cidade cujo principal motor da ocupação até agora foi o turismo. Tanto que 84% do Produto Interno Bruto (PIB) municipal vem dos serviços, sendo 32% de aluguéis, segundo dados do IBGE. Mas é um turismo de baixa renda, desordenado e sem infra-estrutura que infla a população da cidade no pico do Verão e em alguns feriados e que a deixa às moscas no restante do ano. Não há bons restaurantes e nem programação cultural atrativa.

"A gente espera que a Petrobras traga emprego para os jovens. Agora, o nosso sossego aqui é grande", diz o motorista aposentado Jacy Elias Alves, 66, que numa tarde de sexta-feira matava o tempo jogando cartas com os amigos na varanda da padaria que fica na pracinha de Ponta Negra.

Do outro lado da praça a igrejinha de Nossa Senhora das Graças, construída por um aviador que nos anos 1940 fez um pouso forçado no local, completa a aparência bucólica de vila de pescador. Ao fundo, a orla, com vários edifícios vazios, revela que em algum momento a vida ali é agitada. "Aqui só tem trabalho de pescador e pedreiro", resume Sandra Souza da Fonseca, 33, balconista da padaria, três filhos, casada com um pedreiro.

A característica de possuir uma orla sem recortes é apontada como a principal razão para Maricá não ter desenvolvido um turismo de alto padrão como outros municípios da região. "O mar calmo é uma bênção para Cabo Frio e Búzios", resume o secretário da Fazenda do município, Luiz Carlos Bittencourt Coelho. Nos planos para a futura reurbanização está a construção de enrocamentos para fazer enseadas artificiais e dominar a violência do mar. Isso permitiria a urbanização da orla que hoje é periodicamente varrida pela força das ondas. (CS)