Título: Preço do trigo cai ao menor patamar desde novembro
Autor: Cruz, Patrick
Fonte: Valor Econômico, 24/04/2008, Agronegócios, p. B15

As cotações internacionais do trigo, sustentadas pela demanda maior por alimentos, pelo recorde de baixa da relação entre estoque e demanda atingido este ano e pela ainda indefinida situação das exportações argentinas, encararam um recuo ontem. Com alta de 68% acumulada nos últimos 12 meses, a commodity atingiu ontem sua menor cotação desde novembro.

Notícias relacionadas aos fundamentos desse mercado justificaram a baixa, segundo analistas. A Índia, segundo maior consumidor mundial de trigo, deve colher 76,8 milhões de toneladas, volume superior às 75,8 milhões de toneladas do ciclo anterior. O governo indiano ampliou de 15 milhões para 19 milhões de toneladas o volume que pretende comprar de trigo doméstico, o que exigiria menos exportações e, em conseqüência, ajuda a aliviar a exigência de importações.

Também contribuiu para o recuo das cotações o anúncio feito pela primeira-ministra da Ucrânia, Yulia Timoshenko, de que o país vai suspender as restrições às exportações de trigo. A suspensão ocorre depois de dois anos do início das restrições.

"O mercado tem caído e corrigido os exageros de fevereiro e março. As quedas ocorrem na iminência da entrada da safra mundial, e os fundamentos [de ontem] levaram à queda", diz Elcio Bento, analista de trigo da Safras&Mercado. Desde o pico atingido em fevereiro, quando bateu em US$ 13,4950 por bushel, o preço do trigo já recuou 38%.

Ontem, os contratos de trigo negociados na bolsa de Chicago fecharam em baixa de 34,50 centavos de dólar, ou 4%, a US$ 8,3150 por bushel. Ao longo do dia, a cotação chegou a descer a US$ 8,22 por bushel, patamar que não era registrado desde 21 de novembro. Em Kansas, onde é negociado o trigo de melhor qualidade, o declínio dos papéis que vencem também em julho foi de 39,50 centavos de dólar, para US$ 8,7250 por bushel.

A temporada de negócios influenciados pelas variações do clima nas áreas de plantio, conhecida como "weather market", tem norteado a cotação do trigo nas últimas sessões. Ontem, ainda que os anúncios feitos por Índia e Ucrânia tenham tido peso mais determinante, a melhoria de condições de plantio em áreas produtoras dos Estados Unidos também colaborou para a queda.

O forte recuo de ontem e o declínio acumulado desde o pico atingido fevereiro não implicam necessariamente em uma tendência perene de baixa para a commodity, acredita o analista da Safras&Mercado. "Vamos continuar a ver muito movimento especulativo. Ainda é um mercado de clima e também não se sabe com certeza como será a próxima safra mundial", diz Bento. O Departamento de Agricultura americano (USDA) apresentará em maio sua primeira projeção da nova safra mundial de grãos.