Título: Governo costura acordo entre distritais
Autor: Taffner, Ricardo ; Medeiros, Luísa
Fonte: Correio Braziliense, 16/02/2011, Cidades, p. 23

As discussões em torno da escolha dos presidentes das comissões temáticas da Câmara Legislativa (CLDF) terminaram na sessão de ontem. Os deputados distritais chegaram ao consenso após duas semanas de negociações e fizeram votação simbólica para eleger os responsáveis por cada área. Para conseguir fechar o acordo, o governo precisou entrar em peso nas articulações. O nó formado em torno da Comissão de Economia, Orçamento e Finanças (Ceof) terminou de ser desfeito poucas horas antes da sessão. No fim, o grande vencedor foi Agaciel Maia (PTC). Com o imbróglio resolvido, as demais áreas foram distribuídas entre os outros parlamentares.

Disputavam a indicação com Agaciel os distritais Cláudio Abrantes (PPS) e Olair Francisco (PTdoB). No entanto, o governo trabalhou pela vitória do ex-diretor-geral do Senado Federal para aproximar ainda mais o bloco do deputado à base. Desde a semana passada, o secretário de Governo, Paulo Tadeu (PT), passou a atuar de forma mais intensa nos bastidores a fim de convencer os adversários de Agaciel a saírem do páreo. Com a experiência de três mandatos na Câmara, o petista foi peça fundamental nas construções do acordo.

Em avaliações internas, membros do governo entenderam que era melhor enfrentar o desgaste de ter Agaciel como aliado a deixar o chamado Grupo dos 14 ganhar sobrevida. A aliança, que se tornou majoritária na Casa, foi formada para a disputa da Mesa Diretora e excluiu apenas os 10 deputados dos dois blocos formados pelo PT, PRB, PSB, PDT e PPS. O grupo é uma ameaça aos interesses do governo. Com a defesa do nome de Agaciel, o Executivo acomodou os interesses do bloco formado ainda pelos peemedebistas Rôney Nemer e Benício Tavares, e pelos policiais civis Wellington Luiz (PSC) e Dr. Michel (PSL).

Atuante Nesse sentido, a atuação do secretário rendeu resultados. Cláudio Abrantes aceitou deixar a disputa para assumir a presidência da Comissão de Assuntos Fundiários (Caf). A pasta era pretendida por Nemer, que cedeu a posição para o bloco conquistar a comissão considerada mais importante. Se fosse para a o voto, o deputado do PPS sairia derrotado. Por sua vez, Olair afirma que tinha o compromisso dos três grupos integrantes do Grupo dos 14 para conquistar a eleição, mas diz que abriu mão depois de ouvir o pedido do próprio governador. Pela segunda vez nesta legislatura, o empresário entrou na briga por espaço na Casa e teve de retirar a candidatura.

No primeiro dia do ano, ele disputou a vaga de primeiro-secretário da Mesa Diretora. Depois de oito horas de negociação, desistiu. Desta vez, a briga durou dias, mas teve o mesmo fim. Inicialmente marcado para a noite de segunda-feira, depois das 20h, o encontro entre Agnelo e Olair ocorreu no fim da manhã de ontem, na residência do petista, logo após a inauguração da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Samambaia. Segundo o deputado, não houve troca de benefícios. Com o gesto, ele acredita ter conquistado um grande crédito com o governo. ¿Eu só tenho medo de ter investido em uma empresa falida¿, diz.

Fatura As cobranças do deputado já começaram. Olair afirma ter negociado o ingresso na base em novembro, logo após as eleições, quando o governador teria lhe oferecido o comando de uma administração regional. Agora, pretende cobrar ao menos o compromisso feito para a indicação de cargos no governo. Mas se essa pendência pode ser resolvida com a boa vontade de Agnelo, outra tem gerado divergências. O deputado afirma ter feito outro importante acordo na tarde de 1º de janeiro com os colegas Raad Massouh (DEM) e Agaciel. Segundo ele, o democrata deveria deixar a Primeira-Secretaria da Casa depois de um ano de mandato. Olair também desistiria da suplência para que Agaciel assumisse a vaga.

Agora, garante Olair, com a acomodação do ex-diretor-geral do Senado na Ceof, o espaço na Mesa Diretora deve ser dele em 2012. Raad nega qualquer tipo de negociação e disse que permanecerá no cargo ao longo dos dois anos a que tem direito. Segundo o democrata, a indicação dele foi vencida em eleição interna do bloco, com os votos de Eliana Pedrosa (DEM) e de Liliane Roriz (PRTB). A correligionária, no entanto, confirma a existência do acordo. Raad diz, no entanto, ter sido traído pelo próprio grupo, em 1º de janeiro, com a indicação de Olair para a Mesa. ¿Tive de defender o meu nome sozinho. Eles romperam com o acordo, agora não existe nenhuma possibilidade de negociação¿, afirma Raad.

Agaciel no cargo mais valioso O ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia (PTC), demitido do cargo após protagonizar o escândalo dos atos secretos, comandará a Comissão de Economia, Orçamento e Finanças (Ceof) da Câmara Legislativa. Eleito com pouco mais de 14 mil votos, o novato estreia na vida política numa posição estratégica e respaldada pela cúpula do GDF, que defendeu, nos bastidores, a indicação dele para chefiar a comissão mais cobiçada da Casa. O discurso inicial de governistas ¿ que estariam preocupados com o desgaste da imagem do parlamento local com a escolha de Agaciel ¿ foi substituído ontem por elogios à capacidade técnica do distrital e endossado pela vitória do colega nas urnas.

Apesar do movimento inicial do Executivo em prol da candidatura de Cláudio Abrantes (PPS) e, posteriormente, da especulação em torno do acordo firmado com Olair Francisco (PTdoB) no dia da eleição da Mesa Diretora, prevaleceu a tendência apoiada pelo Grupo dos 14 para definir a liderança da Ceof. Catapultado à vaga pela articulação de políticos do PMDB, Agaciel Maia recebeu de bandeja a tarefa de avalizar as contas do governo, elaborar o Orçamento do Distrito Federal, aprovar empréstimos bancários, tratar de reajustes salariais dos servidores, sabatinar presidentes de empresas e de órgãos públicos, entre outras funções. Ele se diz preparado e confiante para a missão, mas garante que nunca se lançou ao cargo. ¿Fui convocado pelos meus colegas para ocupar a Presidência da comissão. Eu pleiteei apenas ser membro. Não pedi voto a ninguém¿, contou ao Correio.

O presidente da Câmara, Patrício (PT), disse que a confirmação de Agaciel na Presidência da Ceof não prejudicará a imagem da Casa. Ele lembrou que o colega só se tornou distrital pela demonstração da vontade do povo. ¿Quem garantiu o mandato dele foi a sociedade. Qualquer deputado tem o direito de assumir funções na Casa¿, analisou o petista.

Economista formado e especialista em orçamento público, Agaciel disse que pretende fazer uma gestão transparente com ajuda de amigos de universidades lotados na Câmara Legislativa e de consultores do Senado. ¿O problema do Orçamento é mais de execução do que de elaboração¿, afirmou ele. Sobre as denúncias de irregularidades cometidas à frente da direção do Senado ¿ como criações de cargos não previstos, concessões de privilégios e nomeações de parentes e afilhados de políticos ¿ Agaciel é enfático. ¿Fui absolvido pelo povo de Brasília. Convido todos a verificar se algum ato foi anulado ou alguém foi demitido. Carrego o carimbo injusto de pivô do escândalo¿, declarou.

Os trabalhos da Ceof serão iniciados hoje, quando haverá uma reunião com Edmilson Gama da Silva indicado para a presidência do Banco de Brasília (BRB). Antes da posse, no entanto, ele precisa ser sabatinado pelos deputados, o que deverá ocorrer amanhã. (LM)

Licenciado Agaciel Maia é analista legislativo do Senado desde 1977, mas está licenciado da função para exercer o mandato de distrital. Há dois anos, ele foi exonerado do cargo de diretor-geral da Casa após o escândalo dos atos secretos, porém garante manter uma relação sólida com todos os colegas de trabalho do Congresso. O deputado disse, inclusive, que eles compõem boa parte de sua base eleitoral. Agaciel nega que tenha escondido do Fisco ser proprietário de uma casa no Lago Sul e integrado um esquema de contratos superfaturados com empresas prestadoras de serviço no Senado.