Título: Amorim teme mais atrasos na Rodada Doha
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Fonte: Valor Econômico, 23/04/2008, Brasil, p. A3
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse, ontem, que está preocupado com o pouco tempo que a Organização Mundial de Comércio (OMC) tem para concluir as negociações comerciais globais da Rodada de Doha, que já duram sete anos. Depois de se reunir com o secretário-geral da OMC, Pascal Lamy, em Acra, capital de Gana, na África, Amorim disse considerar muito difícil que se chegue a um acordo, caso as negociações avancem para o segundo semestre. Lamy, ao contrário, acredita na possibilidade de as negociações convergirem para um acordo até o fim de maio.
"Pascoal Lamy está um pouco mais otimista. Eu também estou otimista, mas acho que ainda existe um caminho a percorrer e estou um pouco preocupado com o passar do tempo. Estou cada vez mais preocupado que maio possa ficar para junho e, se passarmos de um dado momento em junho, pode ficar muito tarde. Estou realmente preocupado com isso", disse Amorim, em entrevista em Acra, onde participa da 12 Conferência das Nações Unidas pelo Comércio e Desenvolvimento (Unctad).
O ideal, segundo ele, é que os negociadores concluam o quanto antes um acordo revisado sobre tarifas e subsídios agrícolas, para que uma rodada final de negociações possa ocorrer bem antes das eleições presidenciais dos Estados Unidos. "Uma coisa que sabemos é que não podemos adiar a eleição americana, por isso acho que é muito importante que todos, incluindo o presidente do comitê agrícola, estejam cientes desse fato", disse Amorim.
O chanceler brasileiro disse não acreditar que o resultado das eleições nos EUA possa interferir na atual etapa das negociações da Rodada Doha, mesmo que os democratas saiam vitoriosos do pleito de novembro: "Não me preocupo muito sob esse aspecto. Tradicionalmente, os democratas são mais protecionistas, mas é mais na área industrial e o que está em jogo aqui, sobretudo, é a área agrícola."
"Não acho que se vai fechar de qualquer maneira, acho que tem que se fechar um bom acordo. Pode não ser o acordo ideal para todos, mas acho que se fechará um bom acordo, que criará limitações efetivas na área de subsídios, que vai criar algum acesso a mercados importantes na Europa e EUA", disse Amorim.
Para Amorim, se o acordo for fechado até o fim do ano, dificilmente será modificado. "Antes era uma coisa diferente. Era como se fosse um acordo entre os Estados Unidos e a União Européia, na prática era isso, com Brasil e Índia pegando uma pontinha aqui, Japão uma outra ali. Hoje será um acordo efetivamente entre 150 países. Então, o ônus de se fazer alguma coisa que implique uma mudança é muito grande." (Agências noticiosas)