Título: Sem experiência e sem maioria, Lugo terá vida dura no Paraguai
Autor: Souza ,Marcos de Moura
Fonte: Valor Econômico, 23/04/2008, Internacional, p. A9
Sem maioria no Congresso, sem experiência política e com dificuldade de acomodar na mesma base tendências ideológicas antagônicas, o presidente eleito do Paraguai, Fernando Lugo, terá como grande desafio garantir a governabilidade do país nos cinco anos de mandato que tem pela frente.
Os resultados das eleições para deputados e senadores ainda não foram divulgados. Mas a expectativa é que o Partido Colorado, derrotado após 61 anos no governo, seguirá tendo a maior bancada no Congresso. Pelas estimativas do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), que fez o vice de Lugo (Federico Franco), os colorados terão o maior número de senadores, 16 ou 17 (de um total de 45). O PLRA terá 14 ou 15. Pequenos partidos de esquerda, como o Tekokoja, que apóia Lugo, conquistarão talvez só um assento, prevêem os liberais.
O novo presidente tem repetido, em entrevistas, que será muito valiosa a ajuda de setores do Partido Colorado e de outras forças que disputaram com ele a eleição. Uma importante corrente dos colorados, o Movimento Vanguarda Colorada, liderado por Luis Castiglioni, tem sinalizado que poderá fortalecer a base de apoio de Lugo.
Mas antes de buscar uma aproximação com forças rivais, Lugo terá de se esforçar para manter a ordem em casa. Ou seja, manter unida a Alianza Patriótica para el Cambio, coalizão criada há apenas oito meses com vistas a derrotar os colorados e cuja identidade programática é mínima. O grupo engloba do centro-direita à extrema-esquerda. Seria, na definição bem-humorada de um diplomata brasileiro, como uma aliança do DEM com o PSol, no Brasil. Lugo reconhece as dificuldades. "Há fissuras, deficiências, falências [na aliança]. Acredito que a primeira questão é consolidar essa unidade", disse.
Ex-bispo da Igreja Católica, Lugo, de 56 anos, é um estreante na política. A decisão de abandonar a batina e concorrer à Presidência foi anunciada no fim de 2006. Nas eleições, ele obteve 40,82% dos votos, contra 30, 72% de Blanca Ovelar, a candidata colorada.
O atual presidente, Nicanor Duarte Frutos, foi eleito com 37% dos votos em 2003, enfrentou um Congresso dividido e forçado a fazer acordos políticos, usando métodos criticados e bem conhecidos no Paraguai, como a indicação partidária para cargos no governo e, principalmente, no Judiciário.
Lugo promete vida nova. Por enquanto, oferece uma visão quase romântica do jogo que o espera. Diz que buscará "pessoas mais capazes, independentemente dos partidos, pessoas mais idôneas, mais honestas, mais patrióticas".
Para levar adiante muitas de suas promessas de campanha, Lugo terá de ter a seu lado dois terços do Congresso. Entre as medidas que apresentou, estão uma ampla reforma do Judiciário, e reformas agrária e administrativa. A máquina do Partido Colorado tomou os cargos públicos. Dos 200 mil servidores, 95% são filiados ao partido, o que fomenta debates e mais debates sobre mérito e qualificação.