Título: Seguro à exportação fica mais
Autor: Lucchesi , Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 23/04/2008, Finanças, p. C1

O aumento na inadimplência das empresas americanas trouxe uma alta de 10% no preço do seguro de crédito à exportação para as companhias brasileiras, segundo as empresas mais atuantes no mercado de curto prazo, de prazos de até dois anos. A demanda pelo produto financeiro, que protege o exportador brasileiro contra o não-pagamento de uma importação, cresceu, diante dos temores de que mais companhias nos Estados Unidos e Europa enfrentem dificuldades.

"São os setores mais diretamente ligados à construção civil os que têm sofrido o maior impacto", diz Fernando Blanco, presidente da Coface no Brasil, do grupo francês Natixis, que atua no crédito à exportação no país por meio da Seguradora Brasileira de Crédito à Exportação (SBCE), a líder no mercado. São os setores de mármores, gesso, granito, aço e móveis. "Os atacadistas de material de construção americanos e as construtoras não conseguem honrar compromissos."

Segundo ele, no primeiro trimestre deste ano a declaração de sinistros na exportação brasileira aos Estados Unidos cresceu 25% na comparação com o mesmo período de 2007. "Enquanto isso, não houve aumento da inadimplência nas vendas externas aos demais países", diz.

Ele lembrou que, em visita recente ao Brasil, o presidente-executivo da Coface, o francês Jérôme Cazes, informou que o não-pagamento no mercado interno de seguro de crédito americano subiu nada menos do que 58% nos primeiros três meses do ano na comparação com o trimestre em 2007. O pior: Cazes fez questão de frisar que a "crise nas hipotecas de alto risco apenas começou a atingir o setor real da economia". Ou seja, a inadimplência deve crescer daqui para a frente e atingir outras empresas americanas e de outros países.

"Na média internacional na Coface, tivemos um aumento de 10% no preço do seguro de crédito à exportação", diz Blanco, que até o início de junho deverá se tornar o presidente da SBCE. A Coface, maior seguradora de crédito à exportação do mundo, já era a maior acionista da SBCE, com 27,5% do seu capital, mas está no processo final de compra do controle maior da empresa, ficando com 75%.

"Hoje está mais fácil vender seguro de crédito à exportação", diz Gilson Bochernitsan, presidente no Brasil da seguradora alemã Euler Hermes. "As empresas brasileiras estão preocupadas e começaram a entender bem para que o produto serve", diz o executivo. Ele confirma o aumento na inadimplência das empresas americanas, que no caso da Euler Hermes chegou até 50% nos primeiros três meses do ano na comparação com o mesmo período do ano passado.

Bochernitsan também considera que o pior está por vir. Segundo lembra ele, depois de ocorrida a inadimplência, a seguradora tem um prazo de 150 a 180 dias para pagar o exportador. "O impacto maior nas taxas do seguro será depois, quando começarmos a pagar os exportadores", diz o executivo.

Já o presidente da espanhola Seguradora de Crédito do Brasil (Secreb), Werner Sönksen, preferiu não comentar o aumento da inadimplência no crédito à exportação. Uma visita ao site da Superintendência de Seguros Privados (Susep) mostra que em janeiro a sinistralidade (a relação entre o sinistro retido e o prêmio ganho) da empresa foi de 3,98%, de longe o maior nível desde janeiro de 2006.

O mercado de seguro de crédito à exportação de prazo até dois anos movimentou cerca de R$ 30 milhões em prêmios no ano passado, aproximadamente 15% a mais do que em 2006. Também atuam nele as espanholas Credit Y Caution e Mapfre. O seguro de crédito à exportação de prazo superior a dois anos é feito somente pelo governo usando os recursos do Fundo Garantidor de Exportações (FGE), sob os cuidados do Ministério da Fazenda. A SBCE venceu no início de 2007 a licitação para administrar as apólices do governo e preparar relatórios de aconselhamento sobre os riscos envolvidos por cinco anos, até o final de 2011, portanto.