Título: Dificuldade em bancos da Europa eleva taxa nos EUA
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Fonte: Valor Econômico, 23/04/2008, Finanças, p. C5

Os problemas dos bancos europeus têm provocado a alta de uma taxa de juros amplamente usada nos Estados Unidos, o que deu força à iniciativa de se criar um alternativa americana a essa taxa, conhecida como Libor, ou taxa do mercado interbancário de Londres.

O problema é que os juros de trilhões de dólares de financiamentos a empresas e empréstimos imobiliários são definidos de acordo com a Libor em dólar, mas apenas três dos dezesseis bancos que contribuem para o cálculo da taxa, através de estimativas diárias do custo de obtenção de empréstimos, estão sediados nos EUA. Isso significa que os problemas dos bancos europeus têm um efeito desproporcional no custo dos financiamentos nos EUA e podem dificultar o esforço do Federal Reserve, o banco central americano, para baixar o custo do capital.

Os problemas dos bancos europeus "devem aumentar a Libor em dólar e resultar em custos de captação mais altos para todos, da General Electric Co. ao mutuário da casa própria, mesmo quando o Fed está baixando ainda mais a taxa de fundos federais", diz Scott Peng, estrategista de juros do Citigroup Inc. Num relatório recente, Peng propôs a criação de um índice "NYbor", que acompanharia os custos de capitalização apenas dos bancos americanos.

Uma diferença significativa entre os juros divulgados pelos bancos europeus e pelos americanos aumentou desde a semana passada, quando muitos bancos começaram a elevar as estimativas de juros que compõem a Libor. Os bancos tomaram essa atitude depois de a Associação de Banqueiros Britânicos, que supervisiona a Libor, anunciar que estava investigando temores dos seus membros de que os concorrentes estariam divulgando custos de captação menores do que a realidade, para evitar a impressão de que estão desesperados por dinheiro.

John Ewan, responsável pela administração da Libor, disse ontem que o comitê de Câmbio e Mercado de Capitais da associação está revisando o modo como a taxa é calculada.

Na sexta-feira, a diferença entre os juros de três meses da Libor em dólar e a média dos bancos americanos para os mesmos empréstimos chegou a 0,04 ponto porcentual, a maior desde a crise financeira que começou em agosto. Se continuar desse jeito, pode representar mais US$ 2,8 bilhões por ano em juros para aproximadamente US$ 6,9 bilhões em financiamentos de empresas americanas, e da casa própria, atrelados à Libor. A diferença já caiu desde então, mas Peng acha que ela pode aumentar em até 0,10 ponto porcentual à medida que as dificuldades dos bancos europeus são refletidas cada vez mais pelos juros que compõem a Libor.

Os analistas atribuem a alta acentuada nos custos dos empréstimos dos bancos europeus ao fato de que eles vêm lutando para conseguir dólares com os quais pagar dívidas na moeda americana. A pressão tem sido particularmente forte na Europa, em parte porque ela não conta com instituições financeiras como a americana Fannie Mae, a Freddie Mac e a Federal Home Loan Banks, avalizadas pelo governo e que fornecem aos bancos americanos acesso a fundos adicionais.