Título: Dividendos no auge
Autor: Fariello , Danilo
Fonte: Valor Econômico, 23/04/2008, EU & Investimentos, p. D1

Os valores pagos em dividendos pelas empresas de capital aberto sobem há cinco anos e nunca foram tão altos. Apenas no primeiro trimestre deste ano, as empresas distribuíram o recorde de R$ 7,45 bilhões aos acionistas, 38% mais que no mesmo período de 2007, segundo dados da Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC). Os dividendos, porém, ficaram em segundo plano durante todo esse período de forte alta da bolsa. Mas hoje, em meio à forte instabilidade dos mercados local e internacional, o mercado voltou a prestar mais atenção nas boas distribuidoras de lucros, de olho em uma receita mais previsível.

No trimestre passado, marcado pela forte oscilação da bolsa, a Carteira Valor Dividendos bateu o Ibovespa. De 29 de janeiro até sexta-feira, a carteira - composta pelas cinco ações mais recomendadas entre as corretoras participantes - subiu 11,78%, enquanto o Índice Bovespa avançou 9,06%. Pesou nesse avanço maior da carteira também a sazonalidade. É no início do ano que as empresas costumam distribuir a maior parte dos dividendos, depois de encerrado o balanço anual.

É nessas horas que se percebe a importância da diversificação quando se fala em investimentos de maior risco, diz Monica Araújo, da área de estratégia da Ativa Corretora. "No momento mais volátil, as ações que pagam mais dividendos tendem a se diferenciar", diz ela, embora ressalte que a estratégia tem de ser adotada apenas com visão de retorno no longo prazo. O bom desempenho diante de tanta turbulência mostra o quanto é importante não colocar 100% dos investimentos em renda variável em uma estratégia específica. "É uma forma de reduzir o risco e buscar um retorno também interessante."

Neste período de incertezas, a expectativa de um bom pagamento de dividendos é algo a que o investidor pode se apegar, diz Fabio Anderaos Araújo, estrategista da Itaú Corretora. Ele diz que agora ficou mais evidente a vantagem das ações com boas políticas de dividendos, embora a importância desses pagamentos tenha sido relativamente reduzida com o aumento da taxa básica de juros neste mês.

A conta é a seguinte, explica Anderaos: o investidor compara o valor pago em dividendos pelas empresas em relação ao preço da ação - o chamado "dividend yield" - com o juro. Se o juro estiver alto, maior terá de ser o pagamento dos dividendos para compensar o risco de a ação oscilar demais e roubar parte relevante do ganho com o dividendo, diz. "O juro em alta acaba levando mais gente que investiria de olho em dividendos para a renda fixa".

Ainda que tenham apresentado melhor desempenho no trimestre, os papéis que pagam maiores dividendos também viveram dias de altos e baixos no mercado, comenta Ricardo Tadeu Martins, analista da Planner Corretora. Com isso, o investidor tem oportunidades para tentar adquirir por preços mais baixos as ações que pagarão o mesmo dividendo, lembra.

Embora o cálculo do "dividend yield" seja importante para avaliar o quão interessante está a ação, as quantias distribuídas aos acionistas variam apenas conforme o lucro e a política de distribuição dos resultados da companhia. Portanto, quando a ação cai, o retorno que o acionista terá sobre o valor aplicado, em termos de dividendo, sobe. Isso porque a empresa irá pagar o mesmo valor em dividendos para uma ação que vale menos.

Por este motivo, corretoras substituíram ações preferenciais (PN, sem direito a voto), por ordinárias (ON, com direito a voto). Os papéis PN normalmente pagam mais dividendos por ação do que os ON para compensar a ausência de direito a voto nas decisões da companhia. Mas quando a ON cai demais, por exemplo, a relação "dividend yield" pode ficar mais interessante.

Neste trimestre, isso ocorreu com os papéis da AES Tietê e da Telesp. A Geração Futuro substituiu a preferencial da elétrica pela ordinária. Já a Ativa trocou também a PN pela ON da operadora de telefonia. "Mesmo que receba menos em valores absolutos, o 'dividend yield' da ON ficou mais atrativo", explica Monica.

Por esse motivo também, uma empresa que paga bilhões em dividendos pode não ser a mais indicada para investidores que miram essa relação. A Petrobras, por exemplo, já distribuiu no primeiro trimestre deste ano R$ 2,5 bilhões em dividendos. Como a companhia possui, entretanto, uma extensa base acionária e sua ação subiu bastante no ano passado e neste, nenhum integrante da Carteira Valor Dividendos recomenda os papéis da estatal. do petróleo

A partir do próximo trimestre, por conta de mudanças internas, a corretora do HSBC voluntariamente deixa de fazer parte da Carteira Valor Dividendos.