Título: Quércia defende Serra para presidente
Autor: Agostine , Cristian ; Felício , César
Fonte: Valor Econômico, 25/04/2008, Política, p. A9

Quércia, Kassab e Bornhausen: aliança entre DEM e PMDB paulista visa a minar a participação de pemedebistas na coligação governista em 2010 O anúncio da aliança entre o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), e o presidente do diretório paulista do PMDB, Orestes Quércia, para a eleição da capital, serviu de palco para que o pemedebista defendesse a candidatura do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), à presidência, em 2010. O apoio do PMDB, formalizado ontem, foi usado também pelo prefeito paulistano para aumentar a pressão sobre o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), a fim de que o tucano retire sua pré-candidatura em troca do apoio do PMDB e do DEM na próxima disputa pelo governo do Estado.

A oficialização do acordo foi feita em clima de lançamento da campanha de Kassab. "O nosso objetivo hoje é falar, sim, da candidatura, evidentemente", afirmou Kassab. O ex-governador Quércia reuniu a direção estadual do PMDB e disse que o apoio foi unânime na Executiva. Junto ao prefeito estava o principal expoente do DEM, Jorge Bornhausen. Em seu discurso, Quércia fez uma oferta ao PSDB para que integre a aliança, em troca do apoio a Alckmin em 2010. "Se Alckmin definir ser candidato a governador nós estaremos com ele", comentou.

O PMDB deve indicar o vice na chapa de Kassab e Quércia ficará com a vaga para disputar o Senado, em 2010. Alda Marco Antonio, indicada por Quércia para a vice, não é aceita por Kassab. O prefeito disse que gostaria de tê-la na equipe, mas afirmou que o cargo de vice precisa ser mais debatido. Se Alckmin compuser a aliança, o PSDB ficará com essa indicação.

Kassab reforçou a tentativa de manter a aliança DEM-PSDB na capital. "Além de falar aqui da candidatura Kassab estamos falando também da busca pela manutenção dessa aliança, que agora foi ampliada. Estamos colocando ao PSDB a análise de que juntos podemos eleger o prefeito e o governador", declarou. O prefeito garantiu que Alckmin pode contar com o apoio do DEM na disputa em 2010, caso integre sua chapa. "A aliança com PMDB é um argumento a mais para mostrar a viabilidade da eleição de Alckmin governador". Kassab e Alckmin devem ter um encontro até o fim do mês.

Apesar de parte da negociação da aliança com o DEM ter sido feita também por interlocutores de Serra, Kassab disse ter fechado os últimos detalhes em um encontro na casa de Quércia, com Jorge Bornhausen, ex-presidente do DEM, e Guilherme Afif Domingos, secretário de Trabalho do governo Serra. "Eu procurei Quércia. Não foi ele que me procurou", disse. Segundo um integrante do governo municipal, Afif deu garantias de que abre mão da vaga ao Senado. No encontro, não teria havido garantias de que o PSDB abriria mão da outra vaga ao Senado na coligação.

Os aliados de Serra pretendem usar a aliança entre o DEM e o PSDB para reforçar a ofensiva pela retirada da candidatura Alckmin. Segundo relato de assessores diretos do governador, o próprio Serra já deu garantias a Alckmin de que o apoiará para retornar ao governo em 2010. A essa garantia se somaram as declarações públicas de apoio a Alckmin feitas pelo DEM e pelo PMDB.

Diferente de Alckmin, Serra tem canais desobstruídos com Quércia. Nas negociações, porém, segundo um tucano com gabinete no Palácio dos Bandeirantes, não teria sido prometido a vaga do PSDB ao Senado, apenas a do DEM. A Casa renova-se em 2/3 em 2010.

Interlocutores de Serra reconhecem que o quadro ainda é de divisão do partido, já que Alckmin permanece candidato e dizem que caso a candidatura de Alckmin permaneça, haverá defecções no apoio partidário. "A legislação impede que Serra faça qualquer ato de campanha contra Alckmin, mas a situação a ser criada fará naturalmente com que o PSDB não seja tão rigoroso no princípio da fidelidade partidária", disse um integrante do governo estadual.

No ato organizado pelo PMDB paulista ontem ao destacar que a aliança com o DEM também vale para 2010, Quércia disse que o governador tucano é uma alternativa ao seu partido. "É pressuposto do PMDB ter candidato, mas se não tiver Serra é uma alternativa", disse. "Ele já foi candidato do PMDB, por que não ser de novo? Seria a primeira vez, depois de mais de cem anos, que o país teria um presidente nascido em São Paulo. O último foi Rodrigues Alves." Em referência indireta ao governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), também cotado pelos à Presidência, Quércia brincou: "Minas teve presidente há 50 anos".

Serra comentou que aceita o apoio de Quércia para 2010, apesar de ressaltar que a manifestação é prematura. "Se alguém diz que vai indicar o seu nome para ser presidente, eu aceito. Mas evidentemente é muito cedo ainda para essa questão eleitoral", considerou. "Acho que 2010 está bastante distante. Mas qualquer observação favorável eu sempre acho bom".

O PMDB é da base aliada do governo federal, mas dirigentes do DEM acreditam que os pemedebistas possam migrar para a oposição em 2010, dependendo do resultado eleitoral de Kassab em São Paulo. "A aliança em São Paulo deve alavancar mudanças no plano federal e terá grande influência no país", disse Jorge Bornhausen.

O acordo entre PMDB e DEM deve fazer com que a ex-prefeita e ministra do Turismo, Marta Suplicy, antecipe o lançamento de sua candidatura pelo PT. A ministra pode ficar no cargo até dia 05 de junho, de acordo com a legislação eleitoral. Ontem, um grupo de cerca de 30 deputados estaduais, federais e vereadores organizou um encontro com Marta em Brasília para fazer um apelo por sua candidatura. "Foi muito forte o apelo porque mostra o partido unido em São Paulo. Me tocou profundamente", disse a ministra. "Isso me deixa propensa a aceitar sair candidata, embora não seja nada definitivo."

O PMDB negociava a aliança tanto com o PT quanto com o PMDB. Ontem, Quércia foi lacônico ao comentar o motivo de ter deixado de lado a candidatura petista. "Nada contra o PT, nem contra a Marta, nem desconsideração. Mas avaliamos que para o PMDB seria a melhor alternativa."

A ministra tentou minimizar a a perda de apoio do PMDB e disse que é preciso continuar conversando com outros partidos, como o PSB, o PDT, o PC do B e o PR. "Para nós foi uma conversa que não prosseguiu", disse, referindo à negociação com Quércia. O acordo DEM-PMDB pode dar a Kassab mais de 7 minutos de TV, contra 4 minutos do PT. "Temos um partido forte na capital, sendo eu ou não a candidata." Marta disse que só oficializará a candidatura depois de conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.(Com agências noticiosas)