Título: Para FHC, Alckmin manterá sua candidatura
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 25/04/2008, Política, p. A9

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse ontem acreditar em candidaturas separadas do DEM e do PSDB nas eleições municipais em São Paulo deste ano e que "é furada" um pacto de não-agressão entre ambos os partidos durante o processo eleitoral do primeiro turno.

"É muito difícil segurar candidato que tem chance. É preciso ter um sentido de estratégia muito grande. O mais provável aqui é um candidato do DEM e outro do PSDB. É o que eu queria? Não. Mas se for esse o caso tem que ter uma convenção de procedimentos. Que vai ser furada! Mas as lideranças têm que ter equilíbrio para o segundo turno e para garantir o futuro também", disse.

FHC sondou o ex-governador paulista nesta semana sobre uma possível desistência em troca da candidatura ao governo do Estado em 2010. A hipótese ganhou força após o anúncio, ontem, da aliança do DEM com o PMDB. Entretanto, de acordo com ele, os tucanos não foram os principais prejudicados pelo acordo. "Primeiro precisa ver se (a aliança) vai ser pra valer. E depois, quem mais vai perder com ela é o PT, pelo tempo de tevê. O PSDB perde também, mas para um aliado", afirmou, depois de proferir uma palestra em um evento organizado por uma empresa de cartões de crédito.

Desde ontem, as pressões por uma desistência de Alckmin crescem na mesma medida em que seus interlocutores passam a defender sua candidatura ao Palácio dos Bandeirantes em 2010.

Segundo um interlocutor do ex-governador, ele ainda avalia a candidatura na capital paulista, sem considerar que isso seja "vital" para sua carreira política. Também é consensual em seu grupo que o que contará para se credenciar à sucessão de Serra em 2010 são os que estarão "no páreo" e as pesquisas, de acordo com o grupo, "o colocam lá em cima". Nesse cenário, os correligionários acreditam que o partido como um todo pode avaliar que Alckmin é importante para eleger outros prefeitos pelo interior neste ano e, ao mesmo tempo, consolidar seu nome para um retorno ao governo do Estado dentro de dois anos. "Há uma real percepção de que as bases municipais é que constróem as bases pessoais, e isso implica em estar presente nas disputas desse ano", disse.

Há ainda a avaliação de que o fato de Gilberto Kassab e de José Serra estarem ocupando cargos públicos tem auxiliado nesse processo pró-Kassab. As inaugurações na cidade com a presença de ambos têm crescido. A bancada na Câmara dos Vereadores que apóia o prefeito, inclusive tucanos, dão apoio maciço à sua reeleição. Também fica facilitada a atração de possíveis aliados, já que os acordos podem também ter caráter estadual, dado a presença de Serra nessas costuras.

Na análise dos alckmistas, a aliança com Quércia prejudica seu candidato apenas pelo tempo de TV perdido, já que o ex-governador, segundo esse interlocutor, não é bem visto por muitos setores da sociedade em razão de acusações de corrupção e, mais ainda, por setores internos tucanos, principalmente aqueles ligados a Mário Covas. Isso porque, segundo esse interlocutor, o partido foi criado a partir de uma dissidência com Quércia e que ainda há grupos internos radicalmente contrários ao peemedebista.

Mesmo assim, há pressão de tucanos pela candidatura Alckmin, em especial a bancada federal em Brasília e os diretórios zonais paulistanos, além de candidatos da Grande São Paulo, onde a campanha de televisão transmitida é a da capital e, assim, vislumbram na candidatura a possibilidade de mais apoio a suas campanhas. Há ainda uma crença entre os alckmistas de que sem o ex-governador, a provável candidata petista, Marta Suplicy, vence, dada a popularidade do presidente Lula. O receio também é de que ela se fortaleça para 2010, o que faria com que tucanos pudessem perder os governos municipais e estadual após anos sob seus comandos.