Título: Múltis perdem espaço na distribuição
Autor: Schüffner , Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 25/04/2008, Empresas, p. B6

Com a venda da Esso e a provável saída da Texaco da distribuição de combustíveis no Brasil, as grandes petroleiras reduzem participação nesse setor no momento em que os investimentos em exploração e produção de petróleo e gás são os maiores da história. A partir da abertura do setor de petróleo, em 1997, sua participação no PIB aumentou de 2% para 10%, com investimentos ainda liderados pela Petrobras, mas crescentes por parte das estrangeiras. Até a promulgação da Lei do Petróleo elas eram proibidas de operar no país. A própria Esso, que acaba de vender sua rede de distribuição para a Cosan, é operadora de um disputado bloco na área de pré-sal próximo aos campos gigantes de Tupi, Júpiter e Carioca. No BM-S-22, a ExxonMobil, sua controladora, e a americana Hess têm 40% cada uma. As Petrobras fica com os 20% restantes.

O movimento de saída ocorre quando o setor começa a melhorar os resultados depois de uma década problemática, em que as companhias maiores perderam mercado em função da concorrência desleal de empresas de menor porte que adulteravam combustíveis e sonegavam impostos, às vezes praticando os dois delitos. O aumento da concorrência reduziu a escala e a margem das distribuidoras, que depois passaram a conviver com o intervencionismo da Petrobras nos preços. Tudo isso tornou a atividade menos lucrativa, o que pode explicar o desinteresse das grandes petrolíferas de continuarem a operar no pais.

A situação é diferente de 37 anos, quando a Petrobras Distribuidora (BR) foi criada em dia 12 de novembro de 1971. Até então, o mercado brasileiro de distribuição era dividido pelas multinacionais Shell, Esso, Texaco e Atlantic.

Mesmo sendo esperada, a venda surpreendeu o mercado, que dava como favas contadas que a Petrobras ia comprar mais esse negócio. O diretor da área de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, disse que foi informado ontem pela manhã que a companhia não tinha apresentado a proposta vencedora. Agora, diz apenas que a Petrobras vai "retrabalhar" sua estratégia. "Agora vamos ter que discutir (internamente)", afirmou, evitando dar detalhes dos próximos movimentos da companhia. Ele recorre ao mercado imobiliário para explicar como a recusa da proposta pela rede da Esso impactará a estratégia futura. "Se você está olhando um apartamento e te dizem que ele foi vendido, você tem que reavaliar se vai olhar outro ou se vai mudar de bairro", desconversou. Perguntado se a Texaco era uma possibilidade, ele respondeu que "nem conversa com eles".

Segundo fonte ouvida pelo Valor, a Texaco está negociando diretamente com o Grupo Ultra sua fatia de 7,7% no mercado de combustíveis do Brasil. O Ultra, que depois de dividir a Ipiranga com a Petrobras também disputou a Esso, se adiantou aos demais concorrentes, apresentando uma proposta antes mesmo da petrolífera contratar um banco para assessorá-la.

O diretor de assuntos corporativos da Esso Brasileira, José Augusto Neves, que é coordenador do Prêmio Esso, explicou que até o momento não tem nenhuma indicação do novo controlador sobre o destino do prêmio, um dos mais tradicionais do país, com 52 anos de existência. "Até agora não tenho nenhuma informação contrária à continuação do prêmio", explicou.

O presidente da Esso, Carlos Piotrowski, disse que a ExxonMobil manterá os interesses no país, como investimentos em exploração de petróleo. "Também vamos manter o segmento químico e de tecnologia da informação", disse. Contrariando todos os tipos de especulação no mercado, Piotrowski afirmou que o grupo fechou o negócio com a Cosan porque a companhia fez a melhor oferta.

"A Cosan fez a melhor proposta comercial e levou", disse. O executivo não deu pistas sobre o seu futuro profissional mas na sede da Esso, no Rio, sua compra por um grupo brasileiro sem nenhuma experiência no setor foi vista como positivo para a manutenção dos empregos. O empresário Rubens Ometto Silveira Mello, presidente da Cosan, afirmou que iria manter a equipe. Sobre os negócios da Esso na Argentina, o presidente da empresa foi sucinto: "a ExxonMobil desistiu de vender e vai manter as operações no país". (Colaborou Monica Scaramuzzo, de São Paulo)