Título: Paulínia 'importa' matéria-prima
Autor: Vieira , André
Fonte: Valor Econômico, 25/04/2008, Empresas, p. B10

Com a inauguração prevista para esta sexta-feira, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Petroquímica de Paulínia, controlada pela Braskem e Petrobras, operará até o início do ano que vem de forma incompleta.

O projeto original da nova petroquímica prevê o fornecimento de gás por parte de duas refinarias da Petrobras em São Paulo. Mas os investimentos da estatal nas suas instalações não ficaram prontos a tempo de abastecer a fábrica petroquímica localizada em Paulínia, na região de Campinas, a 120 quilômetros de São Paulo.

Por conta disso, a Petroquímica de Paulínia está sendo obrigada a "importar" o propeno, a matéria-prima para produção do polipropileno, de duas unidades da Braskem, em Camaçari (BA) e em Triunfo (RS), a distâncias superiores a mil quilômetros da fábrica. "É o chamado turismo molecular", diz uma fonte do setor, se referindo a um recorrente problema da indústria petroquímica.

Com o descompasso entre o fornecimento do propeno e a produção de polipropileno, a empresa de Paulínia irá demorar a capturar sinergias do projeto, além de gerar custos mais altos. "Não saberia dizer o custo, mas não deve afetar substancialmente a operação", diz o vice-presidente de relações institucionais da Braskem, Marcelo Lyra. "A normalidade no fornecimento de matéria-prima está prevista para o fim deste ano." Lyra disse que a companhia também trará propeno do Rio de Janeiro.

A Petroquímica de Paulínia é o primeiro empreendimento realizado pela Odebrecht e a Petrobras, sócias na Braskem, criada em 2002. As obras civis duraram 13 meses. O projeto marca ainda o primeiro passo na diversificação das fontes de matérias-primas da Braskem, dependente quase exclusivamente da nafta, derivado do petróleo, sob forte pressão de alta.

A unidade de polipropileno de Paulínia já está produzindo desde o fim de março a resina para fabricação do plástico, cuja capacidade inicial será de 300 mil toneladas por ano, podendo chegar a 350 mil toneladas. O investimento na fábrica supera os US$ 300 milhões.

As refinarias de Paulínia (Replan) e do Vale do Paraíba (Revap), ambas das Petrobras, estão sendo ampliadas e modernizadas e vão fornecer a matéria-prima à nova petroquímica. As obras na Revap devem ficar prontas em maio, mas a conclusão dos trabalhos na Replan, próxima à unidade petroquímica, é esperada para o primeiro trimestre de 2009. Procurada, a Petrobras não comentou o assunto.

Os investimentos na refinaria são até maiores aos aplicados na fábrica, somando mais US$ 400 milhões. Executivos da estatal já disseram que essa foi uma das razões pelas quais a Petrobras decidiu fazer parte da sociedade com a Braskem na companhia de Paulínia. A justificativa é que a estatal também deseja colher resultados sobre a operação e não meramente ser um fornecedor de matéria-prima. A expectativa é que a Petroquímica de Paulínia fature cerca de US$ 400 milhões neste ano, com a produção de 200 mil toneladas.