Título: Ibovespa balança com saída de fundos das commodities
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 25/04/2008, EU & Investimentos, p. D1
A redução de posições de fundos globais em commodities desencadeou uma nova realização de lucros na Bovespa. Papéis que vêm liderando os ganhos do Índice Bovespa no mês, como as preferenciais (PN, sem voto) e ordinárias (ON, com voto) da Petrobras, Gerdau PN, e Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) ON capitanearam as baixas ao longo do pregão. Com a percepção de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) está prestes a encerrar, na semana que vem, seu ciclo de afrouxamento monetário, o dólar voltou a se valorizar em relação ao euro. Antecipando-se a esse movimento, os especulativos "hedge funds" têm tirado o pé do acelerador nas suas apostas em matérias-primas, enquanto não têm uma noção clara do quanto da desaceleração americana irá esbarrar na Ásia e em outras economias.
No fim do pregão, o Ibovespa apresentava queda de 0,57%, aos 64.576 pontos. O giro chegou a R$ 6,093 bilhões. No mês, o índice ainda ganha 5,92%, impulsionado pelo expressivo capital externo. Até o dia 18, o saldo líquido dos estrangeiros no pregão totalizava R$ 4,987 bilhões, até aqui um fluxo mensal sem precedentes. No ano, a movimentação dos não-residentes ainda está negativa em R$ 794,2 milhões.
Na expectativa da divulgação de resultados operacionais mais fracos no primeiro trimestre, as ações PNA da Vale caíram 2,82%, cotadas a R$ 51,21, enquanto as ON perderam 3,93%, para R$ 62,25. O consenso do mercado era de que a mineradora apresentaria um Ebitda (geração operacional de caixa) na casa dos R$ 6,5 bilhões ou R$ 7 bilhões, em comparação aos quase R$ 9 bilhões obtidos no mesmo período do ano passado, perdendo margem. As demonstrações financeiras só foram conhecidas após o encerramento dos negócios e a companhia apresentou um Ebtida de R$ 6,638 bilhões, um decréscimo de 25,7% na comparação anual. O lucro líquido totalizou R$ 2,253 bilhões, 55,8% abaixo do apurado no mesmo intervalo de 2007.
Para o analista Rodrigo Ferraz, da Brascan Corretora, as margens devem ser mais consistentes apenas no segundo trimestre, com a incorporação dos reajustes de 65% para o minério de ferro e 87% para pelotas. Na última linha da demonstração de resultados, ele estimava um lucro de R$ 4,486 bilhões, o dobro do que o efetivamente realizado.
Cosan ON chegou a cair 9,11%, mas fechou o dia em queda de 1,85%, cotada a R$ 26,50, com os investidores assimilando a aquisição dos ativos da Esso no Brasil. "Embora faça sentido ter um canal próprio de distribuição, a empresa vai sacrificar margens ao entrar num ramo que dá menor retorno do que a produção ou processamento de combustíveis, a sua atividade principal", diz o estrategista de pessoa física da Itaú Corretora, Fábio Anderaos de Araújo.
O mercado também repercutiu, em alguma medida, a divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) que, na semana passada, elevou a Selic de 11,25% para 11,75% ao ano. No documento, o colegiado do Banco Central (BC) não "deu moleza", apesar de reiterar que a dosagem maior no juro teria o objetivo de tornar o ciclo de aperto monetário menos duradouro, diz o economista-chefe da Gradual Corretora, Pedro Paulo da Silveira. "O BC tem a expectativa de que a alta surta efeito, mas não assinou embaixo, não deu garantias de que será assim e poderá baixar a taxa lá na frente, não foi uma ata boazinha como se esperava", diz.
Petrobras PN caiu 2,14% e a ON recuou 1,17%. Além de ficar sem os ativos da Esso, a ata do Copom também não indicou reajustes para os preços do diesel e da gasolina ao longo de 2008, apesar de o barril do petróleo manter-se acima dos US$ 115,00.