Título: Custo de matéria-prima preocupa indústria
Autor: Galvão , Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 29/04/2008, Brasil, p. A5

O alto custo da matéria-prima é, hoje, um dos três maiores problemas enfrentados pelas indústrias, conforme constatação da pesquisa trimestral realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), com base nas respostas de 1.490 pequenas, médias e grandes empresas do setor, ouvidas entre 31 de março e 23 de abril. A principal dificuldade relatada pelos empresários é a elevada carga tributária, seguida da valorização do real frente ao dólar, que prejudica as exportações.

Os preços das matérias-primas foram apontados como um dos principais problemas pelos setores mais dependentes das cotações internacionais de commodities que estão em alta: refino de petróleo, alimentos, matérias plásticas e química. Para o grupo das pequenas e médias empresas, o segundo maior problema é o que chamam de "competição acirrada de mercado". No último trimestre de 2007, o alto custo de insumos era o quinto maior problema das grandes e, no grupo das pequenas e médias, ocupava o quarto lugar.

O resultado da Sondagem Industrial, na avaliação do gerente de Pesquisas da CNI, Renato da Fonseca, mostra pressão dos custos que pode significar aumento de preços. Mas ele também procura ponderar que, dadas as condições econômicas atuais do país, não pode concluir que vai haver um surto inflacionário generalizado. Segundo sua visão, há uma mudança de preços relativos na economia mundial, como ocorreu nas crises do petróleo em 1973 e 1979. Mas, por outro lado, o Brasil evoluiu muito na sua economia, que deixou de ser tão indexada como era. "O real valorizado também estimula a entrada de importações, o que impede o repasse integral do aumento de custos", diz.

Outro fato importante revelado pela Sondagem Industrial é a aparente recuperação, no primeiro trimestre, da atividade no segmento de material eletrônico e de comunicação. Dos 27 setores ouvidos, 14 informaram aumento de produção em relação ao último trimestre do ano passado. Desses 14, os três maiores crescimentos foram de veículos automotores, limpeza/perfumaria e material eletrônico e de comunicação.

Humberto Barbato Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), confirma que o setor passa por um momento de expansão estimulado pelo aumento dos investimentos em infra-estrutura, especialmente banda larga da internet e terceira geração da telefonia celular. Mas adverte que esse quadro vai mudar, porque o consumidor está mais cuidadoso, o que tornará os seis próximos meses "preocupantes" pela desaceleração que um novo ciclo de aumento dos juros vai provocar.

De acordo com a Abinee, os fabricantes de material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicação tiveram, em fevereiro, aumento de 26,7% na produção física com relação ao que ocorreu em janeiro. Quando a comparação é entre os dois primeiros bimestres, o crescimento foi de 12,2%. Considerando apenas fevereiro em relação a fevereiro de 2007, o salto foi de 18,6%.

Quando relataram à CNI a perspectiva que têm para os próximos seis meses, os industriais mostram otimismo com relação ao mercado interno, mas estão pessimistas sobre o futuro das exportações. Pesa o fato de a grande maioria das respostas ter sido enviada à entidade antes do aumento da taxa de juros, de 11,25% ao ano para 11,75%, em 16 de abril. Na próxima Sondagem Industrial, cujos resultados devem ser divulgados em julho, esse otimismo sobre o mercado interno pode desaparecer se continuar o aperto monetário.

Fonseca admite que se a freada na economia dada pelo BC for maior que a esperada, isso significa, para os empresários obrigação de rever seus investimentos. "O aumento dos juros vai segurar a demanda interna? Se for assim, o investimento vai cair. Se for apenas desaceleração do crescimento econômico, os industriais vão continuar investindo. Serão muito mais cuidadosos os quem têm de realizar investimentos cuja maturação é mais demorada", alerta.

Segundo a CNI, o uso da capacidade instalada também recuou de 80%, no quarto trimestre do ano passado, para 75% nos três primeiros meses deste ano. Isso indica, para Fonseca, aumento da capacidade, porque produção e emprego aumentaram nos três primeiros meses de 2008. Outros dois resultados da pesquisa foram ressaltados pela entidade. No primeiro trimestre, há uma consolidação do ajuste dos estoques, mantendo-se os níveis planejados. Também cai a satisfação com a situação financeira e com o lucro operacional.