Título: Sabó abre na China sexta fábrica fora do país
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 29/04/2008, Brasil, p. A8

De uma maneira muito discreta, a Sabó acaba de erguer na China sua sexta operação fora do Brasil. Esse fabricante de autopeças escolheu Wishi, cidade a 130 quilômetros de Xangai, para produzir sistemas de alta tecnologia para abastecer filiais chinesas de clientes que ele aprendeu a atender no Brasil. Como a Sabó, dezenas de empresas nascidas em países emergentes seguem o caminho da internacionalização. Em sete anos, a participação dos países emergentes na soma de investimentos estrangeiros diretos no planeta saltou de 6% para 20%, num total aproximado de US$ 250 bilhões em 2007.

Não é de hoje que ser multinacional deixou de ser privilégio das companhias com origem em países desenvolvidos. Mas esse movimento segue a passos muito largos no bloco chamado Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Escolas de negócios de cada um desses quatro países decidiram se juntar para definir estratégias. A primeira conferência anual de um ciclo de cinco anos de discussões começou ontem em Nova York. No primeiro dia de discussões, os empresários brasileiros atraíram as atenções porque já têm histórias para contar sobre o processo de internacionalização.

Em 2006, última contagem dos investimentos estrangeiros feitos pelos países do Bric, esse bloco foi responsável por um total de US$ 65 bilhões. O Brasil lidera a lista. Em 2006, o volume de recursos de empresas brasileiras aplicados no exterior chegou a US$ 27 bilhões. O total ficou US$ 10 bilhões acima do total de investimentos estrangeiros feitos no país.

Segundo pesquisa da Fundação Dom Cabral, instituição brasileira especializada na formação de executivos e desenvolvimento de empresas, o acesso a novos mercados para crescer mais e ser mais competitiva no cenário global, são os motivos apontados pelas empresas que resolvem atuar no exterior.

Ainda em 2006, a China ficou em segundo lugar, com US$ 18 bilhões e a Índia, US$ 11 bilhões. As 20 maiores empresas brasileiras que atuam no exterior contam, segundo a Fundação Dom Cabral, com ativos que beiram os US$ 56 bilhões. Esse volume praticamente dobrou de 2005 para 2006, puxado em boa parte pela aquisição da Inco, do Canadá, pela Vale.

A Sabó começou o seu processo de internacionalização em 1992 na Argentina. Mas já em 1993 estava na Europa. Hoje suas fábricas se espalham na Áustria, Hungria e, a mais recente, nos Estados Unidos. A partir de outubro começará a produzir um sistema especial de vedação na China e já se prepara para os próximos passos.

Ainda este ano a direção da Sabó tem que definir os projetos para começar a produzir na Índia e Rússia, conta o presidente da empresa, José Eduardo Sabó. "Nós temos que atender a uma pressão dos próprios clientes para segui-los onde eles constroem suas novas fábricas", afirma o executivo. Do total de 4,5 mil funcionários da Sabó, 1,3 mil estão fora do Brasil. Contando com a exportação, 60% da receita da empresa, que ficou em US$ 340 milhões em 2007, vêm das atividades em outros países.

As 20 maiores empresas brasileiras que já são multinacionais alcançam faturamento anual de US$ 30 bilhões com a atividade externa e contam com 80 mil trabalhadores vivendo em terras estrangeiras. Vale, Gerdau, Sabó, Marcopolo e Odebrecht estão entre as brasileiras mais internacionalizadas. Somente a Odebrecht tem mais de 10 mil funcionários em terras estrangeiras.

O principal executivo da Marcopolo, fabricante de ônibus de Caxias do Sul (RS), José Rubens de la Rosa, dominou boa parte dos debates na Columbia University, ontem, ao se queixar da falta de respaldo do governo brasileiro na expansão das empresas brasileiras fora do país.

"Até agora não sabemos se o governo brasileiro quer ou não que as empresas do país se internacionalizem porque não recebemos nenhum respaldo e ficamos sozinhos quando temos de enfrentar crises provocadas por mudanças cambiais, como aconteceu na Argentina", disse.

A Marcopolo fechou uma fábrica na Argentina durante a crise naquele país, voltando a operar no final do ano passado. A Marcopolo têm fábricas ainda em Portugal, Colômbia, África do Sul, México, Rússia e em novembro, segundo Rosa, vai finalmente inaugurar um empreendimento na Índia, em parceria com a Tata, projetado para ser a maior fábrica de ônibus do mundo. De um faturamento de US$ 1,3 bilhão em 2007, 45% foram obtidos nas operações externas.

"Percebemos que no Brasil não existe nem uma política específica para a internacionalização das empresas e nem sequer diálogo entre o setor privado e o público nesse sentido", afirma Carlos Arruda, diretor de relações internacionais da Fundação Dom Cabral.

Já na China o caminho para ser multinacional tem sido mais fácil. Ali existem políticas de encorajamento para a internacionalização, o governo evita sobretaxas, facilita o crédito, oferece subsídios e eliminou obstáculos burocráticos, segundo atesta George Xue, professor da escola de negócios internacionais da Universidade Fudan.

A China desponta como um dos principais investidores internacionais e assusta os próprios integrantes do grupo chamado Bric que o vêem como competidor direto em seus próprios mercados. Segundo Arruda, há hoje 25 empresas chinesas investindo no Brasil e "aprendendo com os brasileiros como ser uma multinacional".

A Índia também tem facilitado o acesso das empresas locais a outras regiões do planeta. Segundo as apresentações da conferência de Nova York, as restrições aos investimentos fora da Índia começaram a ser eliminadas no início da década de 90.

A repórter viajou a convite da Fundação Dom Cabral