Título: Lula queixa-se de clima eleitoral em atos do PAC
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 29/04/2008, Política, p. A11

Rivais na disputa pela Presidência em 2002, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), trocaram amabilidades ao longo dos eventos de que participaram ontem no Estado, a assinatura de ordem de serviços de obras do PAC e da criação de uma universidade federal em Osasco. Conversaram durante toda o evento, com risadas e comentários ao pé do ouvido.

Em seu discurso, o presidente pediu para que Serra o acompanhasse também em todos os outros lançamentos do PAC no Estado. "Quero que o Serra vá comigo em todos os atos", declarou. "Ele não podia vir hoje (ontem), mas fiz questão, porque Osasco é uma cidade extremamente importante. É muito simbólica", disse. No fim de semana os dois políticos também tiveram agenda conjunta, em São Bernardo do Campo, berço político de Lula. Desde a posse de Serra, a relação entre os governos federal e de São Paulo tornou-se mais fluida do que na gestão Geraldo Alckmin.

Pouco antes de o presidente falar à população, Serra discursou e foi vaiado. O prefeito de Osasco, Emídio de Souza (PT), levantou-se para contê-las. Serra não demonstrou irritação. Começou sua fala com elogios ao governo federal e mostrou-se receptivo ao presidente petista. "Governo tem de ser assim. Na eleição é a disputa, mas na hora de governar é para todos. Perseguir politicamente significa prejudicar a população", disse Serra. As reclamações foram veladas. Depois de elogiar a criação de um novo campus da Universidade Federal de São Paulo no Estado, Serra reclamou que os investimentos federais no Estado até então eram acanhados.

À vontade, vestindo uma camisa azul e uma calça jeans, o presidente Lula tirou fotos, deu autógrafos, abraçou a população e cumprimentou uma das 300 mulheres que estavam devolvendo o benefício do Bolsa Família, em Osasco, por ter arrumado emprego. Em Guarulhos, o presidente fez um corpo-a-corpo e em Osasco, foi recebido por mais de 10 mil pessoas, segundo a organização do evento, com gritos de "olê, olê, olê, olá, Lula, Lula".

O presidente pediu para que não transformem os lançamentos do PAC em eventos eleitorais, mas os prefeitos não deixaram de levar suas claques, em ônibus bancados pelos governos municipais. "Está difícil lançar o PAC nesses tempos. Estamos entrando em época de campanha e a imprensa vive dizendo: o presidente está lançando o PAC em campanha política", reclamou, entre críticas à mídia. Acompanhado dos ministros Márcio Fortes (Cidades) e Fernando Haddad (Educação), Lula assinou protocolos para obras de saneamento e habitação previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em Osasco e Guarulhos, cidades comandadas pelos prefeitos petistas Emídio de Souza e Elói Pietá. Em Osasco, o presidente assinou também a portaria para criação de grupo de trabalho para o novo campus da Universidade Federal de São Paulo. "Para a gente ir (aos municípios beneficiados) não pode ter clima eleitoral, senão daqui a pouco a Justiça Eleitoral pensará que eu estou fazendo campanha. Se a gente trouxer para as obras do PAC a guerra da campanha a gente não vai poder lançar mais obras".

A aposta do PT para a prefeitura de São Paulo, a ministra Marta Suplicy, acompanhou o presidente nos dois eventos, apesar de as solenidades não terem nenhuma relação com a pasta de Turismo, comandada pela petista. Em Osasco, reduto eleitoral do deputado João Paulo Cunha, Marta foi citada e recebeu gritos favoráveis à sua candidatura. Parte da multidão de militantes que fez claque para o presidente tinha no peito um adesivo colado, com o nome de João Paulo Cunha associado à universidade que será construída.

Em Guarulhos, ao lado do prefeito, Elói Pietá (PT), disse que em dois mandatos não é possível realizar todas as obras e projetos que um governante deseja. Pietá, assim como Lula, está em seu segundo mandato. "Ninguém consegue fazer tudo em oito, nove ou dez anos. É preciso que a gente tenha uma quantidade de pessoas que vá assumindo compromissos, e que cada um faça mais que o outro", afirmou ontem.

O presidente expôs planos para os próximos anos e previu um novo PAC. "O que eu espero é que quando tiver terminado o nosso mandato a gente tenha um outro PAC, que preveja obras de infra-estrutura até 2016, 2015", disse. "O Brasil se não for planejado de longo prazo, se a gente deixar apenas no mandato da gente, a gente vai fazer apenas curativos. Não vai fazer uma cirurgia que possa resolver definitivamente o problema das comunidades que moram nos lugares de carência."

Sobre seu sucessor, Lula disse esperar que faça um governo melhor que o dele. "Quem vier atrás de mim eu só tenho que pedir a Deus para que seja uma pessoa até mais abençoada do que eu, que faça mais do que eu, que olhe mais para os pobres do que estamos olhando", comentou. "Seria muita mesquinharia a gente ficar torcendo para quem vir depois seja pior", disse. " Tá cheio de gente que gosta de pobre só nas eleições. Mas agora nós já aprendemos quem é que gosta de pobre antes, durante e depois das eleições. A gente não pode permitir que esse país sofra um retrocesso".