Título: Eólica atrai múltis e grupos locais
Autor: Capela , Maurício
Fonte: Valor Econômico, 29/04/2008, Empresas, p. B1

Gerar energia a partir da força dos ventos no Brasil é um exercício de persistência. Mesmo sendo o país com o maior parque gerador instalado de eólicas na América Latina, 247,1 megawatts (MW), o Brasil ainda está longe de aproveitar satisfatoriamente o seu potencial nessa área. Segundo o Atlas do Potencial Eólico Brasileiro, elaborado pela consultoria Camargo-Schubert, o país teria capacidade para gerar 143,4 mil MW desse tipo de energia, equivalente a 10 usinas de Itaipu. Esse volume, combinado com programas governamentais de incentivo à geração de energia a partir de fontes alternativas, desperta o interesse de multinacionais e grupos brasileiros.

Recentemente, a australiana Pacific Hydro e a Energias do Brasil, holding do grupo português EDP, anunciaram investidas nessa área. Outra que também promete inaugurar um parque eólico no país é a brasileira Gargaú Energética, que pertence a uma holding de investidores nacionais chamada Ecopart. Cada MW de eólica instalado no Brasil requer investimento de US$ 3 milhões.

André Leal, gerente da Gargaú Energética, conta ao Valor que o parque de 28 MW de capacidade estará em funcionamento em dezembro deste ano. Com investimento de R$ 130 milhões, a usina será instalada em São Francisco de Itabapoana (RJ) e sua energia foi negociada no Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa). "Essa energia foi vendida por 20 anos para a Eletrobrás, conforme prevê o programa, por R$ 250 por megawatt/hora (MWh)", informa Leal.

Mas não é só a Gargaú que vendeu a energia ao Proinfa. A Pacific Hydro também inaugurou em abril um parque eólico no Estado da Paraíba de 10,2 MW e que recebeu investimentos de R$ 49 milhões. E estuda agora erguer um empreendimento de 150 MW a partir da força dos ventos no Estado do Rio Grande do Norte, o que vai demandar US$ 500 milhões. "Estudamos também projetos eólicos nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia, Ceará e Paraíba", conta Mark Agar, diretor-geral da multinacional no país.

A própria Ecopart já trabalha em outro empreendimento. É um parque eólico, localizado no Delta do Parnaíba (PI), que teria uma capacidade instalada de 82 MW e demandaria investimentos de R$ 330 milhões. "Hoje, temos 100% desse projeto, mas admitimos contar com um sócio estratégico para tirá-lo do papel", afirma André Leal.

No entanto, viabilizar novas usinas eólicas fora do Proinfa não é uma tarefa fácil. É voz corrente entre os executivos deste setor que essa fonte precisaria ter um preço diferenciado para ser posta em funcionamento. E, portanto, por mais que as companhias tenham inscrito esses projetos nos leilões de energia nova que o governo federal deverá realizar neste ano, como é o caso das usinas de Delta do Parnaíba e do Rio Grande do Norte, a sensação é que dificilmente serão negociadas nos próximos pregões.

A tarefa é difícil para os empreendedores de fontes alternativas, como é o caso das eólicas, porque os preços-teto nestes pregões organizados pelo governo não costumam ultrapassar os R$ 126 por MWh no caso das hídricas e os R$ 141 por MWh nas térmicas. E há um consenso entre os empreendedores de fonte eólica que esse tipo de energia só é rentável quando o MWh é negociado por pelo menos R$ 180. "Nós achamos que um parque eólico só traz lucro quando o MWh é superior a R$ 210", acrescenta o executivo da Gargaú.

A própria Energias do Brasil afirma que só fará investimento em eólica quando a formação de preços estiver clara. A holding, que controla ativos de distribuição, comercialização e geração de energia no país, pretende construir um parque eólico de 216 MW no Espírito Santo.

Quem defende a energia eólica costuma lembrar do pouco tempo que a usina gasta para ficar pronta e do fato de ser uma energia limpa para defender a tecnologia. Mas há quem aponte o dedo e afirme que o megawatt efetivamente entregue pelas eólicas é, no máximo, 40% da capacidade da usina. "A eólica é uma fonte de reserva, porque no Brasil não venta quando chove e vice-versa", afirma Leal.