Título: Polêmico, mas discreto, Jereissati não abre mão do convívio familiar
Autor: Moreira, Talita
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2008, Tecnologia & Telecomunicações, p. B2

Em fevereiro, durante a negociação que resultaria na compra da Brasil Telecom, o cearense Carlos Jereissati avisou os envolvidos: sairia de cena por mais de uma semana para viajar com a esposa, Iara Coelho, ex-miss Brasil Mundo, e os três filhos.

Parar uma operação complexa em nome de uma viagem familiar é fato raro no empresariado, especialmente se os filhos já são grandinhos - e Pedro, o mais novo da prole, tem 30 anos. Mas quem conhece Jereissati sabe que ele não abriria mão disso. Há 28 anos, todos os anos, ele pára tudo para esquiar com os filhos.

A dedicação à família é característica de Jereissati e mesmo seus inimigos - e ele coleciona muitos - admitem que essa é uma qualidade do empresário, que passou parte da infância e da adolescência no Rio e que se mudou para São Paulo aos 19 anos, para tocar os negócios após a morte do pai. "Foi o pior momento da minha vida pessoal. Quando ele morreu, eu tinha 16 anos. Era o mais velho e tinha cinco irmãos." Um deles, o senador Tasso, ex-presidente do PSDB, é três anos mais novo.

Carlos Jereissati não era de família pobre. Em 1968, quando foi para São Paulo, o grupo La Fonte, fundado por seu pai, tinha a metalúrgica La Fonte, o Grande Moinho Cearense, a Imobiliária Jereissati e a Pedreira Itatinga. Juntas, faturavam US$ 40 milhões. Aos poucos, Carlos foi imprimindo sua marca. A imobiliária passou a se dedicar aos shoppings.

Em 1966, a La Fonte já tinha 2% do shopping Iguatemi, fundado por Alfredo Mathias. Nos anos 70, já sob o comando de Carlos, elevou sua participação e passou a empreender shoppings em várias regiões. Hoje, são 14. "O negócio shopping foi o que deu sustentação, o que financiou aquisições como a da Telemar", diz Carlos Filho (o segundo dos três filhos de Jereissati), que hoje comanda essa área. Sua irmã Erika, um ano mais velha, é responsável pela parte comercial e de marketing. Pedro, que se especializou na área financeira, é o responsável por telefonia. Todos começaram a trabalhar quando fizeram 16 anos e hoje comandam um grupo que fatura US$ 1,5 bilhão.

"Sempre houve cobrança grande do meu pai do ponto de vista acadêmico. Sabíamos que só iríamos trabalhar se tivéssemos competência", diz Pedro. Os três são filhos do primeiro casamento e ficaram com o pai na separação, nos anos 80. "Saí de circulação por três anos. Fazia questão de tomar café da manhã e jantar com eles todos os dias."

A década de 90 marca a virada do grupo Jereissati (ex-La Fonte). A metalúrgica La Fonte foi vendida e os Jereissati partiram para as telecomunicações. Primeiro, a telefonia celular, com Telet e Americel (hoje pertencentes à Claro), e, depois, a fixa, com o consórcio que arrematou a Telemar (hoje Oi) e que foi chamado de "telegangue" por membros do governo em conversas grampeadas.

"Aquela campanha injustificada de 1998, que envolveu André Lara Resende e [ministro] Luiz Carlos Mendonça de Barros e que teve o apoio silencioso do presidente Fernando Henrique Cardoso foi o pior momento da minha vida profissional", diz Jereissati. "Fiquei surpreso porque convivia com essas pessoas e tinha sido financiador de campanha." Ele credita o fato de seu consórcio ter levado a Telemar à "traição dos espanhóis", referindo-se à oferta que a Telefónica fez pela operadora de São Paulo, quando se esperava que fizesse proposta pelo Sul.

Os inimigos têm versões diferentes e muitos sustentam que Jereissati só conseguiu comprar a Telemar na época porque recebeu financiamento de fundos de pensão e porque o consórcio usou o dinheiro do caixa da companhia para quitar a dívida. "Ele é um negociador polêmico, quer sempre tirar vantagem nas negociações", diz um desses inimigos, que preferiu não se identificar.

Aos 61 anos, em seu terceiro casamento, Carlos parece não se incomodar com as declarações. Diz que está numa das melhores fases da vida e que a reestruturação da Oi de certa forma repara os danos da época da privatização. Os negócios estão cada vez mais nas mãos dos filhos e o empresário não esconde que quer curtir a vida e a esposa Iara, de 28 anos, com quem se casou em setembro. Planos para o futuro? "Pretendo ter um filho com ela, já que meus filhos não me dão um neto." Parece que as viagens de fevereiro ficarão ainda mais animadas.