Título: Com sua calma tipicamente mineira, Andrade diz que está na Oi para ficar
Autor: Moreira, Talita
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2008, Tecnologia & Telecomunicações, p. B2

Para quem aposta que o grupo Andrade Gutierrez (AG) pilotou a reestruturação para preparar para a venda da empresa que irá nascer, caso concretizada, a fusão da Oi (ex-Telemar) com a Brasil Telecom (BrT), o empresário Sergio Lins Andrade, principal mentor das estratégias do grupo, tem uma resposta na ponta da língua: "Há dez anos dizem que vamos vender. Esse plano não existe. O que vamos fazer, assim que pudermos, será absorver a Brasil Telecom, misturar bem a cultura das duas companhias, aproveitar o que cada uma tem de melhor. Vamos crescer no Brasil e fora do Brasil, na América do Sul e na África" , disse ele ao Valor.

Ele afirma que todo o longo processo da operação "foi um grande teste" para a AG e os outros sócios majoritários: "O resultado foi uma realização. De forma incontestável a Oi é tão eficiente como qualquer outra, aqui e lá fora. Havia quem colocasse muita dúvida se a companhia iria conseguir ir para frente. Uns falavam em reestatização, que era o patinho feito, não tinha entre os sócios um operador estratégico", diz.

Ele mantém a conversa no mesmo tom mesmo quando é lembrado que os controladores também eram chamados de "telegangue" à época da privatização. O mínimo que circulava era os sócios majoritários não só levaram a empresa pagando ágio simbólico de 1% mas também conseguiram a presença do BNDES para viabilizar a compra pelo consórcio, na época formado pela própria AG, Inepar, Macal, Fiago, Brasil Veículos e Companhia de Seguros Aliança.

Bem ao estilo mineiro - águia nos negócios, mas sempre com fala mansa -, Sergio Andrade tem o perfil daqueles que atuam fortemente nos bastidores. À frente da presença do grupo nas telecomunicações desde 1992 esteve Otávio Marques de Azevedo, engenheiro convidado para planejar a atuação da AG no setor, quando era vice-presidente da Telebrás. Com a área de construção pesada em baixa, Andrade e Roberto Gutierrez (falecido em 2006) levaram a AG para o setor de infra-estrutura, oportunidade para novos negócios. Na mesma época o grupo entrou em concessões de estradas, começou a buscar oportunidades em energia, aumentou a presença no exterior.

Casado com uma artista plástica, Sergio Andrade é também reservado na vida privada. Com o objetivo, segundo ele, de ter tempo para ler mais, viajar, estar com a mulher e os filhos, deixou a presidência do conselho de administração do grupo em novembro de 2007. Passou a batuta para Otávio Marques de Azevedo. Foi este que acompanhou passo a passo as negociações de compra do controle da BrT, buscando formas de agilizar o processo que teve o valor definido em janeiro, mas devido à complexidade e litígos entre sócios da BrT precisou de quatro meses para ser fechado.

A estratégia, entretanto, começou a ser gestada desde que a oferta pública de ações (OPA) da então Telemar não teve sucesso em dezembro de 2006. Na época, um executivo do grupo disse ao Valor que a partir daquele momento começaria ser elaborada uma nova fórmula para reestruturar o grupo de controle. Um dos majoritários, a GP Participações queria deixar o negócio. Não só definiu outros focos de investimento como era sabido que havia conflito de estilos.

Uma indagação que surge é por que o GP, grupo sempre atento às boas oportunidades optou por deixar a área telecomunicações. Independente da questão societária será que avaliava o setor como pouco promissor? Para Sergio Andrade, entretanto, a área oferece muitas oportunidades. Diz que um ponto importante é a relação com um vasto universo de 20 milhões de clientes. "Uma relação que pode ser cada vez mais desenvolvida para outros segmentos além de telefonia, como internet, TV a cabo, entretenimento e muitos outros serviços", afirma.

Da receita operacional bruta de R$ 7,891 bilhões, em 2007, no grupo AG, a participação em telecomunicações (Oi e Contax) foi de R$ 2,656 bilhões, valor semelhante ao da atuação em concessões, e a de engenharia foi de R$ 2,571 bilhões. A expectativa agora é com o efeito catalisador da "supertele" que, se consolidada, nasce como uma empresa sem litígios, cadeia societária simplificada, musculatura nacional e amplo leque de oportunidades.