Título: Contratações reduzem índice de acidentes de trabalho
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2008, Brasil, p. A3
O aumento das contratações com carteira assinada em nível recorde em 2007 provocou um efeito inesperado em um ano de forte expansão da atividade econômica, com crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 5,4%. O número de acidentes de trabalho diminuiu 2,89% no ano passado, ficando e 157.376, ante 162.058 no ano anterior, de acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego. No ano, o saldo de postos de trabalho gerados cresceu 5,85%, totalizando 1,6 milhão de novas vagas.
Na indústria de transformação, onde houve aumento no saldo de empregos com carteira de 6,09%, para 394,5 mil postos, os acidentes diminuíram 10,97%, para 31.918. No período, a produção cresceu 6%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e houve aumento de 3,95% na folha de pagamento real (descontada a inflação) por hora, um sinal de que as indústrias elevaram o pagamento de horas-extras para garantir os prazos de entrega da produção - fator que normalmente eleva os riscos de acidentes de trabalho.
Para Fábio Romão, analista da LCA Consultores, a redução dos acidentes deve-se ao aumento das contratações formais e aos investimentos mais robustos em qualificação da mão-de-obra. "Desde 2004, a economia brasileira tem resultados positivos. As empresas estão mais capitalizadas e com capacidade de ampliar os investimentos em treinamento e qualificação, o que reduz os índices de acidentes, e também na formalização do trabalho", afirma.
O economista considera que trabalhadores com carteira assinada tendem a reduzir a busca pelo segundo emprego para complementar a renda. Trabalhando para apenas uma empresa, o nível de estresse e o risco de acidentes diminuem. Para Carlos Henrique Corseuil, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apenas os investimentos em qualificação explicam a redução do índice de acidentes.
Conforme os dados do Ministério do Trabalho, houve redução no índice de acidentes em seis de dez setores avaliados. A maior queda em números absolutos ocorreu na indústria. Em termos percentuais, a retração mais significativa ocorreu na área de transporte (15,99%), seguida por instituições financeiras (9,75%), serviços (3,23%), saúde (1,86%) e hotéis (1,74%).
Por outro lado, houve incremento nas áreas agrícola (7,59%), construção (2,45%), educação (1,54%) e comércio (0,89%). No setor de construção civil, o total de acidentes em 2007 foi de 31.144, embora o saldo das contratações com carteira assinada tenha crescido 13,08% no período.
Para Antonio de Sousa Ramalho, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon-SP), a causa para os acidentes é a falta de profissionais qualificados, o que leva construtoras a exigirem que empregados treinados façam mais horas-extras. "Faltam 200 mil profissionais com qualificação adequada no setor. Em 2008, o número de acidentes com morte em São Paulo triplicou por causa desse cenário", afirma.
No setor agrícola a falta de mão-de-obra também explica o aumento dos acidentes. O saldo de empregos gerados com carteira cresceu menos que a produção: 1,46%, quando a safra teve incremento de 13,7%, para 117 milhões de toneladas, segundo o IBGE. (CB)