Título: Aberto ao lucro
Autor: Guimarães, Andréa
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2008, Seguros, p. F1

A fase de bonança alastrou-se pelo mercado segurador brasileiro. Dos tradicionais planos de proteção à vida aos seguros para eletrodomésticos, a maioria dos produtos cresce a taxa anual de dois dígitos. É a primeira vez na história recente da indústria seguradora que um desempenho tão positivo estendeu-se tão amplamente pelo setor. Essa constatação fica evidente a partir do fechamento dos resultados do ano passado e a apresentação dos primeiros números de 2008. Os planos para proteção de bens duráveis, batizados pelo mercado de garantia estendida cresceram mais de 350% no ano passado. Os seguros patrimoniais, que historicamente registram resultados mais tímidos que a média (incluem cobertura para residências e patrimônio pessoal) fecharam o ano com alta de 14,2% nas contribuições em 2007 e, neste ano, a expansão superou os 30% em fevereiro, dado mais recente. Aquelas categorias que já batiam recordes de desempenho continuam crescendo a todo vapor. Na área de previdência complementar, o VGBL somou um volume de prêmios 32% maior em 2007 e no primeiro bimestre de 2008, o montante cresceu 36,7%. Ou seja, são expansões robustas em cima de bases já elevadas. "Para o brasileiro de classe média, já está muito claro que ele simplesmente não pode viver sem seguro", comemora Antonio Cássio dos Santos, presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi). "Acreditamos que uma das indústrias financeiras que mais vão crescer no século XXI será a de seguros e previdência", afirma o presidente do Grupo Bradesco de Seguros e Previdência, Luiz Carlos Trabuco Cappi.

Nesse cenário positivo, uma importante mudança em curso deve dar novo gás ao setor: a abertura do mercado de resseguros no Brasil neste ano. "Foi o passo fundamental para o futuro crescimento da indústria seguradora no Brasil", disse João Elísio Ferraz de Campos, presidente da Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização (Fenaseg). "Essa abertura só irá profissionalizar ainda mais o nosso segmento", afirma. "O futuro começa agora." Segundo Campos, em 2007, o mercado cresceu 14% em volume de contribuições. Ainda não há estimativa para este ano.

Um bom exemplo dessa nova fase de pujança está nos últimos dados de seguros voltados para pessoas. Nessa carteira, que inclui seguros prestamistas, educacionais, vida individual e grupo, houve alta de 24,4% no volume de contribuições no primeiro bimestre do ano. Em 2007, os clientes já tinham contribuído quase 25% acima do verificado no ano anterior. Um dos destaques dessa linha de produtos é o seguro que cobre o pagamento do saldo devedor de dívidas não honradas por questões ligadas à morte ou invalidez, chamado de prestamista. "Essa modalidade tem crescido de forma fenomenal", conta o diretor executivo da Itaú Vida e Previdência, Osvaldo Nascimento. Segundo ele, a carteira de beneficiários da empresa para esse produto atingiu a marca de 1,5 milhão de pessoas em 2008, apenas três anos após o lançamento. No mercado, as contratações dessa modalidade em 2007 aumentaram 41%, uma das maiores altas do setor, segundo a Fenaprevi, e devem manter ritmo forte.

Como os atuais motores dessa expansão do mercado segurador são a escalada da renda e do crédito no país, antigos produtos que dependiam da entrada de novos recursos na praça para crescer ganharam novo vigor. No segmento da construção civil, com forte aquecimento nas vendas, o seguro de riscos de engenharia tornou-se a nova onda. Companhias como a Tókio Marine Seguradora já informaram que esperam aumento de até 50% nessa carteira em 2008. Esse produto oferece cobertura contra todos os riscos durante a execução de uma obra. O interessante nesse caso é que ele passou a ser incorporado aos trabalhos de engenharia como uma garantia a mais ao consumidor (mutuário) e à empresa que contrata a construtora para a realização do projeto. "Queremos continuar a surfar no boom do mercado imobiliário", diz Ney Dias, diretor executivo do Unibanco AIG Seguros. "A idéia central é oferecer uma proposta completa ao incorporador, de segurança total, que cubra não só a obra, mas até o risco de inadimplência do comprador", diz ele. Parte do otimismo está no aquecimento desse setor. Foram construídos quase quatro milhões de metros quadrados em condomínios residenciais em São Paulo em 2007, 41% acima do verificado no ano anterior, informa o Secovi. Para 2008, a alta deve chegar a 20%.

Assim como no caso do seguro de engenharia, o mercado segurador de bens duráveis cresce no embalo do maior crédito na praça. São produtos que custam cerca de 10% do valor da mercadoria adquirida e oferecem ao consumidor a extensão da garantia de fábrica. No ano passado, as sete seguradoras que atuavam no ramo movimentaram prêmios de R$ 1,3 bilhão. Esse montante é 353% acima do verificado no ano anterior (R$ 287 milhões). As indenizações foram bem menores - somaram apenas R$ 92 milhões, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep). Em relação a essa taxa de crescimento, é preciso cautela. A regulamentação do produto sofreu mudanças em 2005 e as alterações entraram em vigor no ano passado. Nesse segmento, a principal estratégia das empresas tem sido adaptar o produto ao bolso do consumidor. Batizado de garantia estendida, o seguro pode ser pago em parcelas cada vez menores. Na rede Ponto Frio houve alta de 21,6% na venda de garantias estendidas, segundo o balanço anual. Na parceria entre Magazine Luiza e a seguradora Cardif, o volume de apólices de garantia estendida vendidas cresceu 35%. "Tivemos uma evolução muito positiva no percentual de garantias de dois anos quando comparadas com a garantia de um ano. Chegamos a duplicar esse percentual [de apólices para dois anos no quarto trimestre de 2007]", disse Manoel Amorim, presidente do grupo Ponto Frio, em teleconferência no mês passado.