Título: Disciplina é característica dos doutores investidores
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2008, Eu& Investimento, p. D1

Apesar de bastante entusiasmados com a descoberta recente que muitos fizeram - o mundo da bolsa de valores -, os médicos investidores usam uma de suas principais características profissionais para cuidar de suas aplicações: a disciplina. Esse é um atributo primordial para se investir em bolsa, mas que uma boa parte das pessoas deixa em segundo plano. Isso acontece especialmente quando o mercado é de alta e a disciplina parece que serve apenas para estragar a festa. Mas é quando o mercado vira e as perdas ocorrem que o investidor percebe, às vezes tarde demais, a importância de ser disciplinado.

O cirurgião dentista Marcelo Seneda é um exemplo de investidor que traça metas bastante objetivas para suas aplicações e as segue à risca, sem se importar se o momento é de franco otimismo ou de intensa preocupação. Assim que começou a comprar ações, Seneda determinou para si mesmo um objetivo claro: ganhar no máximo 15% com uma ação. Quando o papel atinge esse percentual de valorização, o médico sabe que tem a obrigação, com ele próprio, de se desfazer da ação e procurar outra que esteja mais desvalorizada, e portanto, possa representar a possibilidade de ganhos maiores.

"Não nego que é muito difícil fazer isso, principalmente quando a ação está subindo bem você sempre quer ficar com ela mais um pouquinho, para pegar o máximo da sua valorização e não se sentir fora do baile", diz Seneda. "No entanto, eu tento ter em mente que um ganho de 15% é bastante razoável e que, quanto mais eu esticar a minha permanência no papel, maiores as chances do mercado mudar e eu acabar perdendo boa parte daquele rendimento que já estava garantido", explica o cirurgião. Ele acredita que muitos investidores colocam embaixo do tapete os objetivos que traçaram inicialmente por pura ganância, que aumenta na mesma proporção em que a bolsa se valoriza. "Quando as coisas estão indo às mil maravilhas, ninguém se contenta em ganhar 10%, 20%, sendo que o seu vizinho está ganhando 40%, 60% ou até mais do que isso", analisa Seneda. "As pessoas só vão lembrar novamente de suas metas, e se arrependerem de não tê-las seguido, apenas quando já estão perdendo dinheiro", lamenta o médico.

Outra meta que Seneda, hoje com 41 anos, colocou a si mesmo é quanto quer ter de dinheiro daqui 20 anos, para poder aos poucos ir reduzindo sua carga de trabalho e assim começar a pensar na tão sonhada aposentadoria. Só que, diferente dos 15% de ganho nas ações, essa cifra o cirurgião não revela com tanta facilidade. (DC)