Título: Dobra o crédito às construtoras
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2008, Finanças, p. C1

O volume de financiamento bancário direto às construtoras e incorporadoras de capital aberto dobrou no ano passado. Os recursos, que servem para compra de terreno, lançamentos de novos empreendimentos e início das obras cresceram 101% no ano passado, para R$ 3 bilhões.

Mesmo com a explosão do crédito imobiliário, uma parte importante dos recursos ainda vem do incorporador. Com o fechamento do mercado de capitais para novas emissões de ações e mesmo de debêntures, as companhias passaram a recorrer a empréstimos de capital de giro para suprir as necessidades.

Na semana passada, a Even recebeu R$ 450 milhões do Itaú e do Itaú BBA, que serão usados, segundo a própria companhia, para na aquisição de terrenos e do financiamento da construção de novos empreendimentos. O prazo de pagamento de até 66 meses. "A linha de crédito dará condições para a expansão dos negócios e, ao mesmo tempo, preserva as reservas financeiras da empresa para o aproveitamento do "cenário de oportunidades" do setor", disse em nota.

A Agra Incorporadora fechou acordo com o Santander que inclui a modalidade de "Financiamento na Planta", quando o banco financia os mutuários antes mesmo da entrega das chaves, permitindo maior controle do fluxo de recursos para a construtora. A Gafisa, ainda no fim do ano passado, pegou um empréstimo de capital de giro de R$ 200 milhões.

No ciclo de negócios dessas companhias, uma parte importante de capital próprio é necessária para a formação do banco de terrenos (que irão se tornar lançamentos no futuro). Os custos de lançamento e de vendas também cabem às empresas. Essa etapa inicial corresponde a cerca de 20% do custo total de cada empreendimento.

Já os custos de construção, que correspondem de 50% a 60% do total, podem contar com direcionamento de recursos da poupança (chamado de Plano Empresário), mas com limite de financiamento restrito a 80% do valor. Além disso, os bancos, em geral, repassam apenas 20% do dinheiro durante a obra. A maior parte só chega com a entrega das chaves. Por isso, o valor dado pelos clientes como entrada e o capital próprio são vitais.

Bastante capitalizadas pelas aberturas de capital realizadas no ano passado (IPO, da sigla em inglês), as empresas contam com dinheiro em caixa. As 20 maiores encerraram o ano passado com mais de R$ 5 bilhões em aplicações financeiras e dinheiro vivo.

Astério Safatle, diretor de operações da Agra, afirma que a incorporadora encerrou 2007 com R$ 463 milhões em caixa. "Até 2009, não precisamos ir a mercado. Devemos fechar 2009 com cerca de R$ 163 milhões".

Mesmo com recursos para investir, as companhias recorrem a financiamentos para melhorar a estrutura de capital devido ao fechamento do mercado de emissão de ações, como ressalta em relatório a Link Corretora. "Esses recursos são vitais para que as incorporadoras dêem corpo à expansão prometida para o ano sem que prejudiquem a saúde financeira da empresa", diz o texto.

Norberto Barbedo, vice-presidente do Bradesco, relata que de fato houve um aumento de demanda por crédito. Segundo ele, esse movimento ocorre "em função do estreitamento do mercado de capitais", que levou as empresas a buscarem "linhas domesticas para suprir recursos".

Para ele, isso cria uma proximidade que é muito valiosa para o mercado. "O relacionamento interessa tanto do ponto de vista financeiro, pelo empréstimo; quanto para gerar outros negócios e o financiamento da pessoa física".

Luis Veloso, diretor do Unibanco, afirma que de fato a demanda por empréstimos tem aumentado e que o banco tem interesse por todos o segmento da construção. "À medida que o mercado mostra demanda mais ampla do ciclo de produção, obviamente é do nosso interesse para atendimento global"

Até mesmo bancos que ainda não operam recursos de financiamento imobiliário investiram no setor. A carteira do Banco do Brasil para empresas de construção civil cresceu 46,5% no ano passado, de R$ 2,818 bilhões para R$ 4,127 bilhões.

Paulo Rogério Caffarelli, diretor de novos negócios do BB, que aguarda apenas autorização do Banco Central para operar com recursos da poupança aguarda mais demanda neste ano. "A entrada de um novo banco , faz com que as construtoras se voltem para mais essa opção de financiamento".

Antônio Barbosa, diretor de crédito imobiliário do Banco Real também já realizou algumas operações de financiamento de terreno por meio de operações estruturadas com emissão de títulos, mas acreditamos que no processo de produção de imóvel, a colocação de capital próprio das construtoras torna o processo mais saudável.

Apesar da elevada oferta de crédito, em termos percentuais o endividamento das companhias se reduziu em relação aos ativos totais. Isso porque as empresas foram capitalizadas pelos IPOs.

Ainda assim, algumas construtoras estão próximas do limite, segundo fontes do mercado. A situação é relativamente tranqüila e os lançamentos de 2008 e 2009 estão garantidos, mas alguns agentes já avaliam que se o mercado de capitais se mantiver fechado, algumas construtoras poderão ter problemas para conseguir mais recursos.