Título: Empresas investem em perícia médica
Autor: Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2008, Finanças, p. C6

As seguradoras estão investindo em sistemas mais sofisticados de perícia médica para garantir maior rigor no pagamento de indenizações em seguros de vida. Uma pesquisa realizada pelo mineiro Instituto de Medicina Pericial (Imep) mostrou que mais de 60% dos pedidos solicitados pelos segurados não preenchem os critérios exigidos pelas apólices contratadas.

O levantamento, realizado com base nos casos registrados em 2007, mostrou que nos procedimentos de análise de Invalidez por Doença (IPD), 65% das solicitações não atendiam de fato os critérios securitários. Nos pedidos de Diárias de Incapacidade para o Trabalho (DIT), em 60% dos casos os comprometimentos de saúde não justificavam os períodos solicitados às seguradoras. Já nas alegações de Invalidez Funcional por Doença (IFDP), as indenizações não eram cabíveis em 70% dos casos.

Na avaliação de seguradoras e dos especialistas do Imep, o alto índice de irregularidade não é uma comprovação de má fé por parte dos segurados. Mas de falta de informação num mercado que ainda está só engatinhando no Brasil, como o de seguro de vida. "Uma pessoa que foi aposentada por invalidez pelo INSS acha que tem automaticamente direito à indenização da seguradora", exemplifica o gerente de produtos de Vida e Previdência da Minas Brasil, Sérgio Canesso . "Mas, pelos critérios do contrato que ela tem com a seguradora, é possível que não seja considerada inválida." Os critérios das seguradoras, lembra ele, não são os mesmos do INSS.

A Minas Brasil, seguradora controlada pelo banco Mercantil, encaminha para análise do Instituto de Medicina Pericial cerca de 50% dos pedidos de indenização solicitados. São os casos que geram dúvidas no primeiro filtro da Minas Brasil, a análise prévia dos documentos. Segundo Canesso, o objetivo não é evitar que a indenização seja paga. E sim garantir que o que será pago é o valor correto, justo para o cliente e companhia.

"O investimento em métodos mais eficientes de perícia médica permite um melhor gerenciamento da reserva técnica das seguradoras", diz o diretor do Imep, Roberto Belleza. "Se a seguradora paga indevidamente uma indenização, compromete a reserva." Segundo ele, a preocupação das companhias não é apenas com o risco de pagar um sinistro que não era devido. Mas também evitar o inverso. Recusar o pagamento de uma determinada indenização e, no futuro, ter perdas maiores se o segurado recorrer à Justiça e tiver mesmo razão em seu pleito.

Segundo o superintendente médico da Unimed Seguros, Henrique Oti Shinomata, para cada R$ 1 que a Unimed Seguros investiu em perícia médica, a empresa deixou de gastar R$ 1,80. O que mostra que o investimento em serviços especializados de perícia médica resultou em geração de valor para a companhia. "Não queremos não pagar as indenizações, mas queremos pagar o valor correto, o justo para os segurados e para a seguradora", afirmou. Para provar que a preocupação é com a correção do valor, Shinomata diz que nem sempre a perícia reduz ou nega o valor solicitado pelo segurado. "Há casos em que a perícia nos leva a pagar mais do que tinha sido liberado inicialmente."

De acordo com a avaliação do diretor do Imep, os investimentos em medicina pericial vêm crescendo na mesma proporção em que se expande o mercado de seguros de vida no Brasil. Mas ainda há muito que se aperfeiçoar. Segundo ele, em mercados amadurecidos como a Europa e Estados Unidos, todas as companhias investem em sistemas mais eficientes de controle dos pedidos de indenização, como perícia prévia.

Em vez da simples declaração sobre a saúde e pré-existência de doenças, quem contrata uma apólice tem de se submeter a uma perícia prévia. No Brasil, porém, as seguradoras consideram que o preço cobrado pelo produto não comporta o custo deste tipo de procedimento.

Segundo o diretor do Imep, a tendência é que as seguradoras comecem a compreender que os resultados compensam os custos dos procedimentos de perícia médica e podem sim ser compatíveis até mesmo com os produtos mais econômicos que são comercializados no país. "O mercado de seguro de pessoas do Brasil ainda tem de passar por uma sofisticação", opina o diretor técnico do Imep, o médico Wagner Fonseca da Silva, especialista em valoração corporal.

Em 2007, o aumento dos investimentos em perícia médica por parte das seguradoras garantiu um incremento de mais de 12% no faturamento do Imep. O instituto, que tem sede em Belo Horizonte e foi fundado há dez anos, tem uma rede de médicos credenciados para atender solicitações em qualquer cidade brasileira. Todos os laudos dos médicos credenciados, de acordo com Silva, passam por um filtro de segurança: são discutidos na matriz por uma equipe de especialistas em medicina legal antes de serem encaminhados às seguradoras que contrataram o serviço.