Título: Deputado liderou campanha para expulsar padre italiano
Autor: Paulo Emílio, Henrique Gomes Batista e Cristiane A
Fonte: Valor Econômico, 16/02/2005, Especial, p. A12

Muito antes de chegar a Brasília, o deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) foi o pivô de um episódio rumoroso das relações entre a ditadura militar e a Igreja Católica. Em 1980, ele promoveu uma campanha barulhenta para convencer o governo do general João Figueiredo a expulsar do país o padre italiano Vito Miracapillo, um religioso que vivia há anos no interior de Pernambuco. Pároco do município de Ribeirão, a 87 km do Recife, Miracapillo tinha ligações com os movimentos sociais da região e sua atuação incomodava aos usineiros e aos proprietários de terra do lugar. O pretexto para sua expulsão apareceu em 7 de setembro de 1980, quando ele se recusou a celebrar uma missa que fazia parte das comemorações oficiais da Semana da Pátria. Miracapillo justificou-se dizendo que "o Brasil não havia conquistado sua efetiva independência". Cavalcanti, que na época era deputado estadual, denunciou o religioso e pressionou o governo a expulsá-lo. A medida foi tomada com base num artigo da Lei dos Estrangeiros, que determinava que "o estrangeiro admitido no território brasileiro não pode exercer atividade de natureza política nem se imiscuir, direta ou indiretamente, nos negócios públicos do Brasil". O religioso também foi acusado na época pelo governo de "insuflar trabalhadores rurais à invasão de terras". Miracapillo deixou o Brasil, em 31 de outubro de 1980, mesmo sob protestos de políticos de todo o país, inclusive de alguns apoiadores do regime militar. O padre só voltou ao país mais de 12 anos depois, em março de 1993, no governo do presidente Itamar Franco. O episódio deu a Severino projeção e um apelido incômodo, de "Severino Miracapillo". No ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva opôs-se publicamente sobre o caso, com uma nota de repúdio pela expulsão do padre. Em 1980, o PT divulgou nota de solidariedade ao sacerdote, opondo-se à decisão. O político conta com o apoio de setores conservadores da igreja católica, base que o elegeu desde o início de sua carreira, mas é rejeitado pelo segmento mais progressivo.