Título: Retomada da economia engorda lucros do setor de bens de consumo
Autor: Claudia Facchini, Daniela D'Ambrosio, Carolina Man
Fonte: Valor Econômico, 16/02/2005, Empresas &, p. B1

A recuperação da demanda interna deve melhorar o lucro das empresas do setor de consumo. Analistas consultados pela Thomson Financial projetam que os balanços divulgados nos próximos dias tragam bons resultados no quarto trimestre de 2004, refletindo o aumento nas vendas de Natal. A elevação dos juros pode atrapalhar o ritmo de retomada em 2005. Mas os analistas traçam um cenário positivo e projetam ganhos maiores em 2005 para as oito principais companhias do setor negociadas na bolsa de valores: Pão de Açúcar, Lojas Americanas, Natura, Grendene, Coteminas, AmBev, Sadia e Perdigão. Augusto Cruz, presidente do Pão de Açúcar, a maior varejista do país, anunciou recentemente que projeta um crescimento entre 2% e 3% nas vendas reais da empresa em 2005. O percentual é calculado sobre uma base comparável de lojas. Se confirmado, este será o melhor ano para a varejista desde os anos 1990. As vendas nas mesmas lojas do grupo não crescem em termos reais desde 1999, quando o aumento foi modesto, de 0,7%. Em 2004, pelo mesmo critério, espera-se que o faturamento da rede seja semelhante ao de 2003. Os analistas também esperam que a Lojas Americanas apresente um aumento real nas vendas nas mesmas lojas em 2005. Tãnia Sztamfater, do Unibanco, projeta um aumento de 4% nas vendas reais da varejista no ano que vem. O diretor financeiro da Sadia, Luiz Murat, se diz "cautelosamente otimista". Na sua avaliação, a menor demanda por bens duráveis, devido à alta dos juros, tende a favorecer o consumo de alimentos em 2005. "Isso já está ocorrendo nos últimos dois meses", disse Murat. Os custos também devem cair entre 3% e 5% devido à grande safra de grãos. Apesar de ter registrado uma queda de 18% no lucro no quarto trimestre, que foi afetado pela queda do dólar, os analistas prevêem que, em 2005, o resultado da Sadia cresça 31%. No varejo, as perspectivas são melhores, mas as empresas estão preocupadas em melhorar a rentabilidade. Segundo relatório do analista Tufic Salem, do banco CSFB, o presidente do Pão de Açúcar, Augusto Cruz, acredita que a "onda de grandes aquisições acabou". O foco do executivo será elevar o retorno sobre o capital investido. Entre outras medidas, a empresa vem buscando reduzir o custo de sua dívida, "que hoje morde uma grande fatia dos lucros", afirma o analista do CSFB. Tânia Sztamfater, do Unibanco, estima que o lucro do Pão de Açúcar totalize R$ 93,8 milhões no quarto trimestre e R$ 350,9 milhões em todo o ano de 2004, o que representaria um crescimento de 23% e 55%, respectivamente, sobre 2003. Para 2005, a analista projeta que o lucro da varejista cresça 16% para R$ 407,1 milhões. O analista da Merrill Lynch, Robert Ford, prevê que o lucro da rede crescerá 36,8% no quarto trimestre, totalizando R$ 104,1 milhões. Lojas Americanas é um dos principais destaques apontados pela análise do Unibanco, sobretudo em função da agressiva meta de abertura de novas lojas. Das 35 lojas inauguradas em 2004, 26 foram abertas no quarto trimestre. "Entre todas as empresas de consumo é a que mais depende da própria gestão do que do crescimento do país", afirma Tãnia Sztamfater. O variado mix de produtos, que pode ser alterado a cada nova loja, e o baixo tíquete médio são pontos favoráveis à varejista. Os analistas projetam um lucro líquido menor para a Lojas Americanas no quarto trimestre, segundo pesquisa da Thomson. O Unibanco prevê um resultado 26% inferior, mas a queda é explicada por mudanças na estrutura de capital. Operacionalmente, a expectativa é que o desempenho da rede seja melhor, afirma Tãnia Sztamfater. "A Americanas.com continua crescendo em níveis estratosféricos", aponta Gustavo Hungria, do banco Pactual, que projeta um crescimento de 50% nas vendas da pontocom em 2005. A Natura é a companhia que deve alcançar o maior crescimento do lucro no quarto trimestre - o mais importante para a empresa, pois inclui as vendas de Natal. Segundo a Thomson, os analistas prevêem que seu lucro líquido saltará de R$ 28,5 milhões para R$ 105,2 milhões no último trimestre de 2004, um aumento de 269%. Unibanco estima vendas de 62 mil unidades no período, contra 47,4 mil no terceiro trimestre. Para 2005, a projeção do Unibanco é de alta de 21% na receita bruta. "A empresa tem uma rotatividade de pessoas muito baixa e produtividade alta das vendedoras, além de forte investimento em inovação e lançamento de produtos", diz Tânia. AmBev também está entre as boas promessas para 2005. Será um ano decisivo para a cervejaria em função da sinergia com a operação da canadense Labatt - incorporada na aliança com a belga Interbrew. "Se a empresa mantiver a participação de mercado conquistada no final do ano, terá um crescimento importante na vendas de cerveja para o mercado nacional", diz a analista Unibanco. Segundo a AC/Nielsen, a AmBev encerrou 2004 com uma fatia de 68,1% de mercado, contra 63,1% no final de 2003 - auge da guerra com a Schincariol.