Título: Prefeitos desistem de protesto
Autor: Torres, Izabelle ; Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 17/02/2011, Política, p. 5

Depois de anunciar mobilizações contra qualquer reajuste no salário mínimo e divulgar estudos mostrando a dificuldade que os municípios terão de fechar as contas se os gastos aumentarem, os prefeitos brasileiros decidiram abortar, na última hora, as articulações contra a proposta de aumento do piso salarial de autoria do Executivo. O recuo teve dois motivos: o temor de sofrer retaliações nas liberações das emendas pleiteadas junto aos parlamentares e a certeza de que o jogo estava sob o comando do governo.

Usando o argumento de que o Executivo conseguiria aprovar o menor percentual de reajuste ¿ o que causaria o menor dano às finanças dos municípios ¿, os prefeitos que estavam em Brasília desistiram de peregrinar pelos gabinetes explicando as dificuldades para bancar salários mais elevados. Na avaliação dos deputados, a desistência foi um sinal de que os representantes dos municípios entenderam que não havia como evitar a concessão de um reajuste. Além disso, avaliaram que o lobby de última hora contra a proposta oficial só iria criar um clima de confronto com os representantes de movimentos sindicais que encheram as galerias da Câmara em busca de um aumento até superior ao proposto pelo Executivo.

¿Foi uma negociação tranquila. Os prefeitos apenas nos informaram sobre as dificuldades, mas não fizeram como das outras vezes, quando pressionaram para valer¿, contou o presidente da Casa, deputado Marco Maia (PT-RS).

Outro assunto Os poucos representantes de municípios brasileiros que acompanharam a votação na Câmara ontem estavam lá por outros motivos. Darci José Lauermann (PMDB), prefeito de São Sebastião do Caí (RS), por exemplo, disse que veio a Brasília conversar com políticos sobre o corte das emendas parlamentares anunciado pelo governo federal. Segundo ele, grande parte dos projetos em andamento no município depende dos recursos dessas emendas. ¿O principal deles é a construção de um conjunto habitacional, incluído entre as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)¿, afirmou.

Para Lauermann, a maior dificuldade é a incerteza sobre os cortes. ¿Até agora, nenhum prefeito sabe o que vai receber e o que vai deixar de receber desses recursos¿, reclama o peemedebista, que comanda um município de 23 mil habitantes.

Rombo Em aparições discretas, representantes da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) explicaram aos parlamentares quais as preocupações com os reajustes. De acordo com o presidente da entidade, Paulo Ziulkoski, estudos técnicos mostraram que cada R$ 1 de aumento no salário mínimo representa um impacto na folha salarial de R$ 38 milhões. Os dados do estudo foram apresentados aos deputados durante reunião da Comissão Geral, na última terça-feira. ¿Os prefeitos apresentaram os dados do estudo e deixaram por escrito para os parlamentares. Foi a maior manifestação deles. Não havia muito o que ser feito. Eles perceberam isso¿, concluiu o presidente da Câmara.