Título: Capital estrangeiro em renda fixa já supera os investimentos diretos
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Fonte: Valor Econômico, 29/04/2008, Finanças, p. C4

Capitais estrangeiros que buscam os altos juros vigentes dentro do país foram a principal fonte de financiamento do balanço de pagamento neste início do ano. Os ingressos de investimentos dirigidos a aplicações de renda fixa, sobretudo títulos públicos, somaram US$ 8,997 bilhões no primeiro trimestre, superando os investimentos estrangeiros diretos no período, que chegaram a US$ 8,799 bilhões.

Em março, os ingressos de investimentos em renda fixa somaram US$ 4,276 bilhões, também maiores que os investimentos diretos ocorridos no mês, que chegaram a US$ 3,083 bilhões.

Para desestimular os ingressos de capitais dirigidos a renda fixa, o Ministério da Fazenda impôs sobre esse fluxo de dólares uma alíquota de 1,5% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), com validade a partir de 17 de março. Os números divulgados ontem pelo BC ainda não permitem medir os efeitos dessa taxação, porque as estatísticas se referem aos ingressos ocorridos no mês todo.

Chama a atenção nos dados o fato de que o ingresso de investimentos diretos no primeiro trimestre (US$ 8,799 bilhões) não foi suficiente para cobrir o déficit em conta corrente no período (US$ 10,757 bilhões). Os investimentos diretos são a fonte de recursos mais estável para financiar déficits externos. A expectativa do BC é que, nos próximos meses, os investimentos diretos voltem financiar o déficit em conta corrente.

Para abril, a projeção é de um fluxo líquido de investimentos diretos de US$ 3,8 bilhões, para um déficit de US$ 2,8 bilhões em conta corrente. "Esses números são uma boa indicação de que a crise internacional não está afetando de forma significativa o país", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. Para 2008, a projeção do BC é um déficit em conta corrente de US$ 12 bilhões, bem abaixo dos esperados US$ 32 bilhões em investimentos diretos.

Ainda não há informações segregadas sobre os ingressos de investimentos em renda fixa em abril. O único dado divulgado ontem pelo BC informa que, até ontem, haviam ingressado US$ 5 bilhões em investimentos em carteira, que incluem tanto as aplicações no mercado acionário quanto os investimentos em renda fixa.

Os dados parciais de abril indicam que estão sendo rolados apenas 67% dos empréstimos e papéis de médio e longo prazo com vencimento no mês. É um percentual bem mais baixo do que o observado no primeiro trimestre, com 229%. Lopes diz que a maior volatilidade do mercado financeiro fez com que empresas adiassem suas captações. "Não tomaria esse período como tendência", afirma. "É natural que as empresas façam uma pausa nos períodos de maior volatilidade."

O mercado de câmbio registra um superávit de US$ 4,934 bilhões em abril, nos dados coletados até o dia 24. O segmento de comércio exterior apresenta um superávit de US$ 5,156 bilhões, e o segmento financeiro, um déficit de US$ 222 milhões. Os bancos absorveram US$ 1,417 bilhão do superávit do mercado de câmbio, elevando sua posição comprada em moeda estrangeira de US$ 9,783 bilhões para US$ 11,2 bilhões, entre março e o dia 24 de abril. O BC comprou US$ 3,517 bilhões em suas intervenções no mercado de câmbio no período.