Título: Transportadoras tentam renegociar os contratos
Autor: Vanessa Jurgenfeld
Fonte: Valor Econômico, 16/02/2005, Empresas &, p. B6
As empresas de transporte de cargas que operam nas regiões Sul e Sudeste estão com dificuldades para renegociar preços dos fretes, que subiram consideravelmente por viagem por conta da queda da ponte sobre o Rio Capivari (PR), na BR-116, principal ligação rodoviária para o sul do país. A dificuldade na renegociação está no fato de os contratos de transporte serem fechados com antecedência, com tarifas já pré-fixado. "É muito difícil renegociar. Nossos contratos são normalmente fechados para três anos. Estamos absorvendo os custos", diz Antônio Caetano, presidente da Transportadora Grande ABC, que transporta peças para montadoras como Volkswagen e Ford, tendo no sul o principal mercado fabricante. Ele calcula que o gasto da empresa por mês será de R$ 1,6 milhão a mais por conta do desvio que os caminhões agora têm de fazer. Veículos com carga acima de 45 toneladas estão proibidos de transitar na ligação que foi montada provisoriamente (uma ponte apenas na ligação de Paraná com São Paulo) por medida de segurança. Esses veículos estão realizando um desvio via Ponta Grossa, interior do Paraná, um trecho que envolve mais pedágios e pelo menos 3 horas extras de viagem. "Temos 110 veículos por dia fazendo o trajeto Sul-Sudeste. Como a viagem está mais longa, colocamos 26 caminhões extras para que conseguíssemos cumprir os prazos de entrega previamente acertados com os clientes", afirma Caetano. A Federação das Empresas de Transporte de Cargas de Santa Catarina (Fetrancesc) realizou um estudo ouvindo os 13 sindicatos das empresas do setor que existem no Estado. O diretor geral, Pedro Lopes, explica que a perda diária por frete é de R$ 900, considerando desvio de até 350 km, pedágio a mais no valor de R$ 150 e o tempo da viagem que por dia perdido é de R$ 250. De acordo com a federação, 10 mil caminhões de Santa Catarina por dia transitam na BR-116, sendo a grande parte de Bitrens, conhecidos por cargas acima de 45 toneladas. "É uma fatalidade com a qual agora temos que conviver. E acontece em um momento em que há aumento da produção industrial", destaca Lopes. As empresas de transporte de cargas acreditam que as obras da ponte poderão levar mais do que seis meses e temem que os prejuízos sejam ainda maiores. "Já houve situação de menos gravidade em que a obra demorou mais tempo do que seis meses", diz Lopes. A Unilog, empresa de transporte de Concórdia, no oeste catarinense e cujos principais clientes são a Sadia e a Batávia, fez um estudo próprio em que constatou diferença de R$ 167 no custo do diesel e de R$ 142 no custo de pedágio ao comparar o trecho rodado antes da queda da ponte e o atual. Em vez de passar por Curitiba, seus caminhões agora vão por Ponta Grossa, Itararé e Tatui. O cálculo da empresa mede a distância a partir da cidade de União da Vitória (PR). De acordo com o supervisor de logística e manutenção, Claudiomiro Vieira, a empresa perde em faturamento e produtividade. Segundo Vieira, são 20 caminhões bi-trens da Unilog que trafegariam pela BR-116 e que estão realizando o desvio semanalmente. Ele comenta que os caminhões consomem mais diesel e muito mais tempo de viagem. "Trata-se de um trecho de serra, com grande volume de veículos. Os caminhões rodam 0,2 km por litro ante 0,3 km por litro e o tempo de percurso aumentou em 3 horas", exemplifica. Segundo ele, a Unilog está tentando renegociar os contratos. "Mas é muito difícil. E a compensação pode levar muito tempo para acontecer", estima Vieira.