Título: Roberto Rodrigues quer ação contra EUA na OMC
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 16/02/2005, Agronegócios, p. B10

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse ontem que "é chegado o momento" de abrir um painel para questionar na Organização Mundial do Comércio (OMC) os subsídios concedidos pelo governo dos Estados Unidos à sua produção de soja. "O governo tem encorajado o setor privado a pensar nisso", disse. "Há espaço para negociar, mas é preciso um estudo profundo sobre o caso". Na última sexta, o Valor antecipou que o setor privado está disposto a enfrentar os subsídios americanos na OMC e já começa a atualizar estudos econométricos para sustentar uma ação. O painel mostrará que os produtores de lá não plantariam soja sem os fartos subsídios e o Brasil avançaria em novos mercados, além de as cotações serem mais altas. O consultor Marcos Jank estima que os subsídios dos EUA à soja somarão US$ 3,25 bilhões na safra 2005/06. "Temos necessidade de competir e os custos de produção estão elevados. Os preços internacionais estão mais baixos do que os garantidos pelo governo dos EUA", afirmou. Há um efeito colateral desses subsídios na produção brasileira. A forte alta dos custos de produção tem levado os produtores de soja a pedir a renegociação de suas dívidas de investimento - deste ano para 2006 -, além de renegociar as dívidas dos programas de securitização e de saneamento de ativos (Pesa). No governo, porém, a rolagem é considerada "quase impossível". Primeiro, porque os produtores, mesmo avisados pelo governo, teriam investido num momento de alto risco. Depois, porque isso abriria um precedente para a renegociação de outros setores. Grandes produtores de Mato Grosso pressionam o governo e calculam uma dívida superior a R$ 1 bilhão apenas com linhas de investimento. Diante da crônica falta de recursos, o governo terá que escolher entre socorrer os sojicultores ou os produtores de arroz e trigo, que têm preços abaixo do mínimo e sofrem forte pressão das importações da Argentina. O Ministério da Agricultura já gastou R$ 447 milhões dos R$ 527 milhões em recursos para equalizar juros. Por isso, tem cada vez menos chance a renegociação das dívidas dos produtores de café. "As perspectivas não são muito promissoras", disse Rodrigues. Segundo ele, está "difícil" responder aos argumentos do Ministério da Fazenda de que os preços do café estão em clara tendência de alta. Roberto Rodrigues disse, ainda, que seguem as negociações dentro do governo para fechar um "pacote" de apoio à comercialização da safra de grãos. (MZ)