Título: BNDES encomenda estudo para avaliar se pode reduzir spreads
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 16/02/2005, Finanças, p. C1

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, disse ontem que encomendou um estudo para avaliar se é possível reduzir os spreads cobrados pela instituição nos financiamentos ao setor privado. "Estamos olhando a composição dos custos de nossas taxas e num primeiro momento não vejo possibilidade de redução, mas não quero me antecipar porque só quando tiver a conclusão do estudo poderei me pronunciar de forma definitiva sobre o assunto", disse Mantega. Ele salientou que o spread do BNDES varia de 3,5% a 4%, já incluindo o risco de crédito que chega a 1,5% nas operações diretas. "Quando o BNDES repassa o recurso, nosso spread se reduz, mas o banco privado coloca seus custos mais a taxa de risco", comparou Mantega, referindo-se às operações indiretas. O mais importante, segundo ele, é que o BNDES continua a ser a entidade financeira que fornece o crédito mais barato no país. "Se considerar taxa de inflação de 2004, de 7,6%, estamos falando de uma taxa de juros real de 4% a 6%, dependendo da linha de crédito. Podia ser menor, mas, dadas as circunstâncias, é o que se pode fazer e ainda é conveniente para os investidores", afirmou o presidente do BNDES. Ele participou da abertura de seminário promovido pelo banco para divulgar suas linhas de financiamento junto aos micro, pequenos e médios empresários. No discurso, Mantega disse que em 2005 o banco dispõe de R$ 15 bilhões para financiar as pequenas e médias empresas, montante 20% superior aos R$ 12,5 bilhões liberados pelo BNDES para este setor da economia no ano passado. Em entrevista antes da palestra, Mantega voltou a defender a autonomia da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) em relação à Selic, usada pelo Banco Central no controle da inflação. O tema foi objeto de polêmica na semana passada depois de o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, ter defendido que a TJLP acompanhe os aumentos da taxa básica de juros da economia. "Elas (Selic e TJLP) têm trajetórias independentes, dinâmicas diferentes. Tanto é verdade que nos últimos meses a Selic subiu e a TJLP ficou parada", comparou Mantega. Segundo ele, a TJLP tem como objetivo auxiliar a queda da Selic no futuro, já que a taxa de longo prazo estimula investimentos, aumentando a oferta de produtos, o que permite combater a inflação. "Desta maneira tem que trabalhar com TJLP atraente para o investidor: se subir a TJLP, ela deixa de ser atraente e passa a não valer a pena fazer investimentos, reduzindo a oferta futura", sustentou. Para ele, enquanto a Selic corre atrás de alterações no comportamento da inflação, a TJLP foca seu resultado no longo prazo, com parâmetros próprios, que permitem, inclusive, prever a inflação futura. Esses parâmetros são a taxa de inflação esperada no futuro, de acordo com a meta estabelecida pelo BC, e o risco-país, que tem caído. "Então a composição desses dois elementos aponta no futuro para uma TJLP mais baixa", projetou. Mantega avaliou ainda que o Conselho Monetário Nacional (CMN) vem concordando com esta avaliação, tanto que tem mantido estável a TJLP, atualmente em 9,75% ao ano, apesar de a Selic estar subindo. Questionado se o CMN pode promover uma redução na TJLP, ponderou: "Pode. Por que não? Não vou querer influenciar o CMN, mas, se analisar a queda do risco-país, ela nos permite vislumbrar uma redução da taxa na próxima reunião do CMN", defendeu.