Título: Moreira Franco, o foco da vez
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 17/02/2011, Política, p. 8

Na briga por postos de segundo escalão, o PT escolheu como alvo o ministro de Assuntos Estratégicos, Wellington Moreira Franco (PMDB). A bancada de deputados petistas movimenta a tropa de choque para evitar a demissão do presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann. Para enfraquecer o ministro, vale até levantar um assunto que parecia engavetado: a defesa contra turbinar a pasta com o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), hoje sob a batuta da Secretaria de Relações Institucionais.

A manutenção do presidente do Ipea é tarefa emergencial, de acordo com os petistas. A bancada vai mobilizar os parlamentares, fazer abaixo-assinado e levar a demanda para o vice-presidente Michel Temer e aos ministros da Casa Civil, Antonio Palocci, e de Relações Institucionais, Luiz Sérgio. Economista da Universidade de Campinas, Pochmann é ligado ao PT e chefia o instituto desde 2007. Antes, foi secretário de Trabalho da Prefeitura de São Paulo quando comandada por Marta Suplicy (PT).

O argumento para Moreira Franco retirá-lo é um descontentamento com o instituto. O ministro considera o órgão pouco crítico e vê em Pochmann uma pessoa que limita o trabalho econômico a levantar dados positivos para embasar o sucesso de programas do governo. O peemedebista, no entanto, quer mostrar força e independência em uma pasta que ele assumiu a contragosto. E não aceita que o principal órgão sob seu comando não tenha um presidente afinado com os seus interesses.

Bruno Peres/CB/D.A Press - 21/10/10 Economista da Unicamp, Pochmann está no cargo desde 2007

O ministro já avisou ao vice-presidente sobre a sua decisão e, se conseguir vencer a pressão do PT ¿leia-se receber carta branca da presidente Dilma Rousseff ¿, pretende retirar Pochmann do Ipea na próxima semana, quando o economista voltará de uma reunião sobre diáspora africana, em Pretória, na África do Sul. O Diário Oficial da União publicou ontem a autorização para o afastamento de Pochmann do país entre 18 e 23 de fevereiro, com ônus limitado para o governo.

Insatisfação Os deputados do PT estão bastante insatisfeitos com a movimentação de Moreira Franco. Na reunião da bancada na terça-feira, quando o tema foi levantado, houve aplausos. Os petistas acabaram tratando também de um assunto que parecia ter sido descartado pela presidente. Prometeram pressionar o governo a não ceder o conselhão, como é conhecido, aos interesses do ministro de Assuntos Estratégicos.

A reunião da bancada petista já caminhava para o fim quando foi defendida a necessidade de barrar a transferência do CDES. A baderna que imperava no encontro perdeu lugar para o silêncio. Os deputados que estavam saindo voltaram para a sala de reunião para manifestar solidariedade à proposta. ideia de turbinar a Secretaria de ssuntos Estratégicos com o conselhão surgiu na montagem do governo da presidente Dilma como uma tentativa de agradar a um descontente Moreira Franco, mas acabou engavetada e descartada pelo governo. Na disputa por cargos, alguns peemedebistas tentam retomar a discussão, mas não encontram apelo dentro do Palácio do Planalto.

Consenso Enquanto o PT decidiu partir para o braço de ferro com o ministro de Assuntos Estratégicos, encontrou consenso interno para indicar os nomes para as comissões permanentes da Câmara dos Deputados. O partido vai indicar o deputado João Paulo Cunha (SP) para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e o deputado Arlindo Chinaglia (SP) para a relatoria do Orçamento 2012. Pelo acordo fechado, Ricardo Berzoini (SP) recebeu a promessa de que será o indicado para a CCJ em 2012.

O PT paulista estava em pé de guerra ainda pelo rescaldo da escolha de Marco Maia (PT-RS), no ano passado, como candidato à Presidência da Câmara no lugar de Cândido Vaccarezza, líder do governo. A fim de não perder espaço para o PMDB, decidiu colocar as diferenças de lado e estabelecer uma estratégia única.

Terceiro round A disputa entre o PT e o PMDB pelos cargos do segundo escalão entra no terceiro round com fricção envolvendo o Ipea. O primeiro foi o embate pelo setor elétrico, perdido pelos peemedebistas da Câmara quando a presidente Dilma Rousseff decidiu nomear Flavio Decat para Furnas. O segundo é a disputa pelo comando da Funasa, que ainda não tem um vencedor e coloca em lados opostos o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves.

Dilma recebe Pinguelli » O secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Luiz Pinguelli Rosa, esteve ontem com a presidente Dilma Rousseff para tratar da continuidade das atividades deste ano do grupo de discussões. Ele informou à presidente sobre a posição crítica do fórum quanto às alterações do Código Florestal. Dilma disse a ele que está em estudo uma alternativa quanto às pequenas propriedades, para que sejam tratadas de forma diferenciada. Outras questões, como mudanças no percentual de terra florestada e na distância de preservação de matas ciliares, serão discutidas na próxima reunião do grupo, após o carnaval, e que deve contar com a presença da presidente. Dilma também falou sobre a inauguração de uma usina que produz energia com as ondas do mar em Fortaleza, em março deste ano.