Título: Usiminas é contra parecer do Cade sobre MRS Logística
Autor: Jorge , Danilo
Fonte: Valor Econômico, 30/04/2008, Epresas, p. B6

O novo presidente do Conselho de Administração da Usiminas, eleito ontem em Assembléia Geral Ordinária, Wilson Nélio Brumer, contestou o parecer da Procuradoria do Conselho de Defesa Econômica (Cade), que quer restringir a participação da siderúrgica na tomada de decisões da MRS Logística, por entender que a Vale do Rio Doce - acionista de ambas as empresas - possa vir a exercer poder no controle da ferrovia desfavorável à CSN e ao grupo Gerdau.

"A Usiminas não está na MRS atendendo orientações da Vale", disse Brumer. Para exemplificar essa autonomia na tomada de decisões da siderúrgica no âmbito do conselho da ferrovia, Brumer lembrou a recente compra da mineradora J. Mendes. "Essa aquisição demonstra que a Usiminas quer utilizar a sua participação societária na MRS, que tem uma importância estratégica indiscutível", afirmou ele.

Segundo Brumer, a área jurídica da siderúrgica, sediada em Belo Horizonte, vai analisar o parecer para dar o encaminhamento mais adequado em breve. "Vamos ver primeiro qual o problema, mas achamos que essa discussão não tem nenhum sentido, até porque a participação da Vale na Usiminas é pequena, em torno de 6% do capital votante".

Segundo noticiou o Valor na edição de ontem, a Procuradoria do Cade entende que há riscos de a Vale se unir à Usiminas para prejudicar os demais sócios da ferrovia - as siderúrgicas Gerdau e CSN. No parecer, a procuradoria recomenda que a Vale seja proibida de participar de qualquer deliberação ou reunião no controle da Usiminas, quando o assunto for a MRS.

Brumer visitou ontem o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, acompanhado do novo presidente da Usiminas, Marco Antônio Castello Branco, efetivado pelo Conselho de Administração da siderúrgica para o biênio 2008/2010. Castello Branco, principal executivo da fabricante multinacional de tubos Vallourec, sediada em Paris, toma posse efetivamente em 05 de junho. Até lá, o comando da Usiminas ficará interinamente a cargo de Omar Silva Júnior, diretor industrial da empresa.

Funcionário de carreira da antiga Mannesmann (atual V & M Tubes), onde ingressou em 1984 como engenheiro metalúrgico no anos 80, Castello Branco não quis comentar o seu novo desafio à frente da Usiminas. "Por ora, a minha primeira meta é fazer minha mudança para Belo Horizonte", afirmou. Ele sucede Rinaldo Campos Soares, que trabalha na Usiminas há quarenta anos, 18 deles como presidente - assumiu o comando em 1990, quando a siderúrgica ainda era estatal.

"Vou usar minha experiência para ajudar a dar continuidade aos planos de crescimento da Usiminas", disse Rinaldo, que assumiu, ontem, o posto de conselheiro, indicado pela caixa de previdência dos empregados da Usiminas, detentora de 10,1% das ações votantes da companhia e integra o grupo de controle da siderúrgica, ao lado do grupo japonês liderado pela Nippon Steel, dos grupos Camargo Corrêa e Votorantim e da Vale.

À frente da Usiminas, Castello Branco terá como desafio imediato o audacioso plano de expansão da siderúrgica, que prevê a ampliação da capacidade de produção em mais seis milhões de toneladas. Os investimentos para todo o programa, que vai até 2015, deve ficar entre US$ 9 bilhões e US$ 10 bilhões e prevê elevar sua produção a 15,5 milhões de toneladas por ano. Com a nova gestão, o cronograma desse plano poderá sofrer alterações.

O plano inicial era agregar mais cinco milhões de toneladas, mas ajustes nos projetos em análise - novo alto-forno na usina de Ipatinga (MG) e nova usina em Cubatão (SP), ao lado da Cosipa - agregaram mais um 1,2 milhão de toneladas. "Fizemos algumas correções e definimos que vamos ter um novo alto-forno de cinco mil metros cúbicos, maior do que o previsto, e assim vamos também ampliar a sinterização e a coqueria", explicou Soares.

Com esses ajustes no investimento, a capacidade de produção a ser agregada na usina de Ipatinga, antes planejada em 2,2 milhões de toneladas, sobe para 3,2 milhões de toneladas, enquanto o parque de Cubatão será acrescido em mais 3 milhões de toneladas.

Na assembléia extraordinária de acionistas realizada ontem pela Usiminas, os acionistas decidiram aprovar aumento de capital de R$ 4,05 bilhões, mediante a incorporação de reservas, para bonificação. "Os acionistas ganharam dobrado. Quem tinha uma ação passou a ter duas. A Usiminas está remunerando bem, tanto o capital quanto os acionistas", disse Soares.