Título: Pressão das estatais faz adiar leilão de Jirau pela segunda vez
Autor: Capela, Maurício ; Schuffner , Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 30/04/2008, Empresas, p. B8

O leilão da segunda hidrelétrica do complexo do rio Madeira, Jirau, foi adiado pela segunda vez e marcado para 19 de maio deste ano. Agendado inicialmente para o início do mês, dia 9, o processo de venda do empreendimento acabou sendo postergado pela primeira vez para o próximo dia 12, por conta da análise que estava sendo feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o preço-teto do pregão, que acabou sendo estabelecido em R$ 91 por megawatt/hora (MWh).

O Valor apurou que, apesar da portaria do Ministério de Minas e Energia ter se limitado a informar o adiamento e a nova data, houve uma pressão por parte das estatais elétricas para alterar o dia do pregão e da inscrição dos consórcios. O objetivo era ganhar tempo para que as controladas da holding Eletrobrás pudessem se encaixar nos consórcios liderados por Camargo Corrêa e pela multinacional franco-belga Suez. Somente o grupo capitaneado por Odebrecht e Furnas já está pronto, até porque há um contrato anterior entre elas.

Além das duas empresas, esse consórcio conta ainda com a estatal mineira Cemig, com a construtora Andrade Gutierrez e com o fundo de investimento Amazônia Energia, composto pelos bancos português Banif e espanhol Santander.

Segundo o cronograma anterior, a entrega dos documentos de inscrição deveria ser feita entre 28 e 29 de abril. Agora, os consórcios envolvidos na disputa precisarão fazer a inscrição em 12 de maio.

A julgar por informações apuradas pelo Valor, há uma boa chance de os consórcios sofrerem alguma mudança significativa. Um bom exemplo se dá na aliança entre a Suez e a estatal Eletrosul. Há 15 dias, as duas companhias estavam juntas na disputa por Jirau, mas se a inscrição tivesse que ter sido feita ontem, a Suez a teria feito sozinha. Segundo a estatal, a parceria não está mais confirmada, mas não deu detalhes. Apenas afirma que atualmente ela avalia sua presença no leilão e no próprio consórcio. A Suez não comenta o assunto.

O Valor apurou também que a Camargo Corrêa não tem encontrado vida fácil para firmar seu consórcio. O grupo, inicialmente, havia sacramentado sua parceria com a estatal Chesf e pretendia contar ainda com a maior distribuidora de energia do país, a CPFL, onde inclusive é acionista. Em relação à Chesf, que foi junto com o grupo no leilão de Santo Antônio, falta o sinal verde da Eletrobrás. A Camargo negou que irá se associar à Suez para disputar a usina, conforme declarou o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.

"Adiar leilões de energia é uma especialidade deste governo. Os dois pregões de energia nova, que estão previstos para este ano, já mudaram de data. O leilão para vender energia de reserva também já sofreu modificações e agora foi a vez de Jirau", afirma o economista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE). Para o economista, essas seguidas alterações mostram insegurança em relação as regras do jogo no setor elétrico brasileiro.

Com capacidade instalada de 3,3 mil megawatts (MW), Jirau entregará efetivamente 1,975 mil MW de energia. Prevista para gerar o insumo a partir de janeiro de 2013, o empreendimento foi orçado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do Ministério de Minas e Energia, em R$ 8,7 bilhões.