Título: Leasing dispara no início do ano
Autor: Travaglini , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 30/04/2008, Finanças, p. C1

O leasing voltou ao centro das atenções dos compradores de veículos. No primeiro trimestre, enquanto o saldo das operações de crédito direto ao consumidor (CDC) apresentou crescimento de 3%, subindo para R$ 83,7 bilhões, o arrendamento mercantil para pessoas físicas avançou 20%, para R$ 36,3 bilhões, segundo dados do Banco Central (BC).

O produto havia perdido força em 1999, quando a maior parte dos contratos ainda era indexada ao dólar e houve uma forte desvalorização cambial que provocou aumento dos empréstimos. Nos últimos anos o arrendamento já vinha recuperando espaço com o uso de taxas prefixadas.

Mas a explosão veio no início deste ano , puxada pelo aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) do crédito (o leasing é isento) e a criação do compulsório dos depósitos interfinanceiros das empresas de leasing.

No fim do ano passado, o leasing já era responsável por 30% de todos os novos empréstimos para automóveis e a expectativa é que o produto encerre o ano na frente do CDC, segundo Luiz Montenegro, presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef).

Não foi apenas o arrendamento que cresceu. O crédito total teve aumento de 31,1% nos 12 meses encerrados em março, acima dos 27,8% de 2007, apesar de medidas recentes que deveriam desestimulá-lo. O saldo total atingiu R$ 992,723 bilhões, equivalentes a 35,9% do Produto Interno Bruto (PIB), o nível mais alto desde os 36,8% de janeiro de 1995.

Os juros médios cobrados nos empréstimos bancários subiram de 37,4% para 37,6% entre fevereiro e março, mostram estatísticas divulgadas pelo BC. A alta dos juros bancários foi puxada pelo aumento dos custos de captação dos bancos, que passou de 11,4% para 12,2% entre fevereiro e março.

Mas o destaque foi mesmo o leasing, cujo saldo nos doze meses encerrados em março dobrou. Nas pessoas físicas o aumento foi de 121,5%. Entre as empresas, o saldo atingiu R$ 40,3 bilhões, com avanço de 84,8%.

A operação já era mais barata por trazer benefícios fiscais aos bancos. "O arrendamento permite um melhor planejamento fiscal, pois a depreciação do bem é dedutível do imposto", afirma o presidente da Anef. Agora, com o aumento da alíquota do IOF para operações de crédito, que ficou, no mínimo, 1,5% mais cara do que o arrendamento, a diferença se tornou ainda mais relevante.

Além disso, os bancos têm um novo incentivo para realizar empréstimos com leasing devido à criação do compulsório de 25% (que será aplicada de forma escalonada ao longo deste ano) sobre os depósitos interfinanceiros captados de sociedades de leasing, ou arrendamento mercantil. Como apenas a parcela que não foi usada pela leasing é transferida para os bancos, é interessante fazer a operação de arrendamento para reduzir o valor depositado no BC.

Nos últimos anos, os bancos vinham usando suas subsidiárias de leasing para captar recursos com emissão de debêntures e usavam o dinheiro em operações de crédito tradicional, evitando o recolhimento compulsório. Em novembro do ano passado, o sistema bancário apresentava R$ 160 bilhões em depósito interfinanceiros de empresas de leasing.

Os dados trimestrais do balanço do Bradesco divulgados segunda-feira ilustram bem os efeitos dessa mudança. O saldo do CDC para veículos de pessoas físicas teve leve alta de 0,4% no trimestre, permanecendo em R$ 21,2 bilhões. Nesse período, o leasing avançou 59%, passando de R$ 3,3 bilhões, no fim do ano, passado para mais de R$ 5,3 bilhões, em março.

Nas concessões para empresas, o quadro se repete, com o saldo do CDC subindo 0,7% enquanto o leasing cresceu 20%. Segundo informações do balanço, a instituição, a partir de 2007, passou "a focar mais o financiamento de veículos novos na modalidade leasing, o que justifica os altos índices de crescimento".

Outros bancos também preparam expansão. O Santander, que divulgou ontem o resultado trimestral, manifestou o interesse de iniciar no segundo semestre a operação para pessoas físicas.

Sérgio Diniz, diretor financeiro do Banco GMAC, afirma que a instituição estuda reativar a subsidiária de arrendamento mercantil. Atualmente o banco realiza as operações internamente.

A decisão do GMAC está ligada tanto a possibilidade de emitir debêntures quanto pela nova configuração do mercado, com o produto ganhando novamente espaço. O arrendamento deverá responder por 70% dos empréstimos da instituição neste ano, contra cerca de 40% de 2007.