Título: Medidas de contenção não surtem efeito a tempo e crédito acelera mais
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 30/04/2008, Finanças, p. C2

O crédito passou a se expandir num ritmo ainda mais intenso neste início de ano, apesar de várias medidas adotadas nos últimos meses pelo governo no sentido de conter a demanda. Estatísticas divulgadas ontem pelo Banco Central mostram que o volume total de crédito bancário cresceu 31,1% em março, comparado ao mesmo mês do ano passado, acelerando-se em relação aos já robustos 27,8% observados ao longo de 2007.

O grande destaque nesse início de ano é a expansão dos empréstimos à industria, que se tornou o segundo mais importante fator de expansão no atual ciclo de crédito, atrás das pessoas físicas.

No primeiro trimestre, o crédito bancário cresceu R$ 57 bilhões, saindo de R$ 936 bilhões em dezembro de 2007 para R$ 993 bilhões em março. Os empréstimos a pessoas físicas puxam desde 2004 o atual ciclo de expansão do crédito, e nesse início do ano não tem sido diferente: respondem por 35% do aumento do crédito, com incremento de R$ 19,8 bilhões no primeiro trimestre, numa conta que exclui os financiamentos habitacionais e rurais. A indústria vem logo atrás, respondendo por 29% do aumento do crédito, com expansão de R$ 16,7 bilhões.

Os dados surpreendem porque, desde o início do ano, uma série de medidas adotadas pelo governo deveriam provocar a desaceleração do crédito. Em janeiro, o Ministério da Fazenda aumentou de 1,5% para 3,38% a taxação de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre operações de crédito. No mesmo mês, o BC instituiu uma alíquota de compulsório sobre captações feitas pelos bancos por meio de suas empresas de "leasing", que começa a valer em maio. Também em janeiro, o BC passou a sinalizar um aperto monetário. A alta dos juros básicos só ocorreu em abril, mas, nos meses anteriores, os juros futuros subiram, elevando o custo de captação dos bancos. Todos esses fatores atuaram para que os juros médios dos empréstimos subissem de 33,8% para 37,6% ao ano de dezembro a março.

Dados preliminares de abril, que cobrem até o dia 15, mostram continuidade da tendência de expansão do crédito. Os empréstimos a pessoas físicas cresceram 1,3% e, no caso das operações com empresas, 2,9%.

Segundo o BC, o forte crescimento do credito à indústria, que avançou 38,1 em março, comparado ao mesmo mês de 2007, é disseminado por vários setores. Entre os segmentos que mais cresceram, estão indústria petroquímica, alimentícia, automotiva e agroindústria. "Desde meados de 2007 esta ocorrendo uma demanda muito forte de empréstimos para pequenos investimentos e para capital de giro", disse o economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Para Gomes de Almeida, os empréstimos à industria, em parte, são puxados pela forte demanda doméstica, que estimula as empresas a ampliar a oferta. Mas ele pondera que a crise internacional levou a uma restrição dos financiamentos externos à empresas, que passaram a buscar dinheiro dentro do país.

Em março o crédito às pessoas jurídicas foi puxado pela imposição de alíquota de 1,88% de IOF sobre operações de repasse externo. "A taxação entrou em vigor no dia 17 de março e foi anunciada previamente", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. "Algumas empresas resolveram antecipar empréstimos para evitar a taxação."

O crédito bancário a pessoas físicas também se acelerou neste início do ano. Houve desaceleração apenas no crescimento do chamado crédito referencial para a taxa de juros, que engloba operações mais tradicionais, como financiamentos de veículos, crédito pessoal, empréstimos consignados e cheque especial. Em março, o crédito referencial para pessoas físicas cresceu 24%, comparado ao mesmo mês do ano passado, abaixo dos 25,2% de 2007.

Quando analisadas todas as operações com pessoas físicas, incluindo "leasing" e cartões de crédito, os dados mostram que o crédito continua a crescer, passando de 33,5% para 34%, de dezembro a março. O crédito referencial para taxa de juros cresce um pouco menos porque, entre outros fatores, o aumento do IOF desestimulou o financiamento de veículos. Em contrapartida, o leasing passou a crescer mais depressa.