Título: Nível de reservatórios sobe e consumo de energia cresce
Autor: Santos , Chico
Fonte: Valor Econômico, 02/05/2008, Brasil, p. A4
Embora o nível geral dos reservatórios das principais hidrelétricas brasileiras esteja abaixo do que eles acumulavam no final de abril do ano passado, a avaliação do governo para o período chuvoso que está terminando não é negativa. Com os resultados obtidos até agora, quando historicamente escasseiam as chuvas nas regiões Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) está recomendando ao Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) o desligamento das térmicas a diesel do Nordeste, ligadas emergencialmente desde dezembro do ano passado.
Paralelamente, na tentativa de aproveitar as últimas chuvas para elevar um pouco mais o nível da barragem de Sobradinho (BA), responsável pela acumulação de 60% da energia gerada no Nordeste, foi prorrogado por mais um mês a autorização para que a vazão da barragem fique abaixo da mínima. Desde o começo de fevereiro a vazão de Sobradinho pode chegar a 1.100 metros cúbicos por segundo, 200 metros cúbicos a menos do que o mínimo estabelecido pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco. O regime especial, que pode prejudicar outros usos da água do rio, estava autorizado até o final de abril e agora vai até o final de maio. Com isso, o ONS espera elevar o nível de Sobradinho a 80% da capacidade. No dia 29 de abril ele estava em 71,98%. No final de abril de 2007 o nível da barragem era de 98,62%.
Com exceção da região Sul, os reservatórios das hidrelétricas terminaram o período chuvoso em níveis não exageradamente abaixo de 2007, ano considerado pelo ONS "excepcional" no aspecto de chuvas. Foi em conseqüência dessa situação especialmente favorável que os reservatórios da região Sul chegaram ao final de abril de 2007 com 82,62% da capacidade. Este ano, mesmo com o sistema interligado mandando diariamente nas últimas semanas 4.000 megawatts para poupar a água dos seus reservatórios, o Sul estava no dia 29 de abril com 46,69% da capacidade máxima.
Na realidade, a estação chuvosa na região Sul começa agora, embora as previsões sejam de que, por culpa do fenômeno La Niña, o período de chuvas no Sul não seja dos mais promissores. A disponibilidade energética no começo deste ano no Sul foi agravada pela quebra da termelétrica a gás de Araucária, que gera 484,5 megawatts. Com tudo isso, o ONS considera que a situação atual dos reservatórios do Sul não chega a ser anormal. Como há a expectativa de que o La Niña desapareça por volta de junho, espera-se que no segundo semestre deste ano as chuvas em todo o país sejam mais abundantes do que em igual período de 2007.
O La Niña, paralelamente, tem contribuído também para poupar energia. Sua influência sobre as temperaturas, reduzindo as máximas para o primeiro quadrimestre do ano, especialmente no Sul e Sudeste, é apontada pelo ONS como uma das causas para o crescimento relativamente baixo do consumo de energia diante dos indicadores de forte crescimento econômico.
Em abril deste ano a carga de energia do Sistema Interligado Nacional (SIN) manteve-se estável em relação a março e cresceu 3,7% sobre abril do ano passado. No acumulado em 12 meses, a carga cresceu 4,7% até abril, segundo o Boletim de Carga Mensal do ONS na sua versão preliminar, praticamente a mesma taxa verificada nos 12 meses de 2007 (4,8%). Na comparação de abril contra abril, os maiores crescimentos foram do Nordeste e do Sul, com, respectivamente, 5% e 4,9%. No anual, Nordeste, com 5,1% e Sudeste/Centro-Oeste, com 4,9%, lideraram.
Pelos dados da Empresa de Pesquisa de Energia (EPE) - que medem consumo e não carga, como o ONS - o consumo de energia elétrica cresceu 4,3% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado.
A indústria liderou o consumo nos três primeiros meses do ano com 42.907 GWh, um crescimento de 4%, na comparação com o primeiro trimestre de 2007. Em segundo lugar, o setor residencial fechou o período com 23.911 GWh, com um aumento de 4,2%, e o comércio em terceiro, com um consumo, nos três primeiros meses do ano, de 15.705 Gwh, um crescimento de 4,4%, em relação ao mesmo período do ano passado. De acordo com EPE, as baixas temperaturas, especialmente nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul, principalmente no mês de março, reduziram o ritmo de expansão do consumo residencial e comercial.