Título: Para UFRJ, atividade ainda não recuou
Autor: Raquel Salgado, Marli Olmos, André Vieira e Ivana
Fonte: Valor Econômico, 17/02/2005, Brasil, p. A3

Antonio Licha, economista e novo coordenador do grupo de conjuntura do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE-UFRJ), acredita que o juro alto não está tendo êxito na redução do ritmo de crescimento da economia porque medidas microeconômicas, como a expansão do crédito, estão tirando a eficiência da política monetária. O IE estima um PIB crescendo 4% este ano. Licha destaca que a preocupação do IE com os rumos da economia em 2005 não está centrada no nível de atividade, que continua elevado, com a indústria continuando a crescer em janeiro, num processo natural de reposição de estoques. "Nossa preocupação maior é com o câmbio", avisa. Segundo ele, a política do Banco Central de elevação continuada da Selic está derrubando a taxa de câmbio na medida que estimula a entrada de capitais especulativos, que estão aproveitando a chance para fazer operações de arbitragem. Em consequência, inundam o mercado de dólar, aumentando a oferta da moeda americana e neutralizando os esforços do BC para enxugar o excesso de dólar. As apostas do IE para os próximos meses são de que a evolução da inflação deverá surpreender positivamente, permitindo ao BC adotar uma política monetária menos restritiva do que a sugerida pela ata do Copom de janeiro e confirmada ontem, quando o juro básico subiu mais 50 pontos, atingido a taxa de 18,75%. A alta dos núcleos de inflação, avalia Licha, deverá se diluir a partir de abril, pois ela reflete a alta das commodities metálicas e do petróleo. Para o IE, a tendência da inflação é ceder para níveis próximos da meta (de 5,1%) e permitir à autoridade monetária, a partir de meados do ano, iniciar um processo de redução da taxa de juros. Este é o que ele considera um ponto discordante em relação à avaliação do Copom e do Banco Central sobre a natureza da inflação. "Consideramos a inflação um problema de custos e transmissão de um choque no passado e não identificamos nela problemas de demanda. Apesar do hiato do produto estar se reduzindo, da capacidade instalada da indústria estar alcançando patamares recordes, o rendimento médio do trabalho ainda está caindo em termos reais". O economista confessa que seu temor em relação ao impacto pernicioso do juro alto sobre o câmbio não passa pela possibilidade de uma redução forte do saldo da balança comercial este ano. "Isto não vai acontecer. Estamos projetando um superávit comercial ainda polpudo, de US$ 27 bilhões. O efeito da apreciação do real só vai ser sentido no último trimestre do ano, podendo prejudicar as exportações em 2006". O que pega nessa política, observa, é que há um excesso de dólares no mercado difícil de ser fechado. "O BC não conseguiu reverter ainda esse excesso de oferta, mesmo resgatando títulos cambiais, intervindo no mercado futuro com swaps cambiais ou comprando dólar para aumentar as reservas", observa. "Enquanto o dólar ficar em baixa eles (os investidores de curto prazo) não estão correndo risco. Ao menor sinal de desvalorização cambial, porém, sairão correndo no efeito manada".