Título: Usinas iniciam colheita com preços do açúcar já travados
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Fonte: Valor Econômico, 02/05/2008, Agronegócios, p. B14

As usinas de açúcar e álcool do centro-sul do país deram início à colheita de cana da safra 2008/09 com pelo menos 90% de sua produção de açúcar com os preços fixados. É um feito inédito. No mesmo período do ano passado, menos 50% da oferta estava fixada.

O forte movimento de hedge (proteção) reflete a recuperação dos preços da commodity, entre o final de 2007 e março, e também a necessidade de garantia de rentabilidade mínima. "É a primeira vez que o setor dá início à colheita com quase toda a produção de açúcar fixada", afirma Arnaldo Corrêa, diretor-sócio da Archer Consulting. O receio de forte volatilidade nos preços da commodity também levou parte das usinas a fixar entre 14% e 18% de sua produção futura, referente à safra 2009/10.

Levantamento realizado pela Archer Consulting mostra que as fixações de preços até final de setembro do ano passado estavam baixas para a safra 2008/09. Foi a partir do mês de setembro que as usinas do centro-sul começaram a partir para o hedge de preços.

A Archer estima que o volume fixado até aquela época ficou em 2 milhões de toneladas de açúcar, a um preço médio de 10,11 centavos de dólar por libra-peso. Entre outubro e novembro do ano passado, foram fixadas mais 4,5 milhões de toneladas, a um preço médio de 10,50 centavos. Em dezembro até meados de janeiro de 2008, mais 4,8 milhões de toneladas foram fixadas ao preço médio de 11,57 centavos. Na segunda quinzena de janeiro até final de fevereiro, mais 5,2 milhões de toneladas foram fixadas ao preço médio de 13,14 centavos, estimulados pelo aumento das cotações no mercado internacional. Até o final demarco, o patamar médio ficou em 14,14 centavos. Com isso, o preço médio de fixação girou em torno de 12 centavos.

De acordo com Corrêa, as usinas também começaram a fixar o dólar, uma vez que mais de 50% da produção nacional é exportada. "Não é um movimento comum. Mas usinas começam a se dar conta", observa ele.

Em fevereiro de 2006, as cotações do açúcar na bolsa de Nova York atingiram o pico de quase 20 centavos de dólar por libra-peso. Àquela época, as usinas já estavam fixadas a preços mais baixos e não tiveram os ganhos obtidos com a forte alta. Esta "decepção" levou boa parte dos grupos a puxar o freio nos hedges.

Com um cenário baixista, por conta do aumento da safra do Brasil e da Índia, a expectativa era de que as cotações do açúcar permanecessem em queda. Mas, com a forte entrada dos fundos no mercado de commodities desde o final de 2007, as cotações de açúcar voltaram a se recuperar. Em abril, contudo, preços do açúcar voltaram a perder força. No mês passado, os contratos médios da commodity encerraram com desvalorização de 4,36%. No ano, a alta acumulada é de 17,72%. Analistas de mercado acreditam que as cotações não têm força para novas altas nos próximos meses e devem oscilar entre 11 e 13 centavos. (MS)