Título: Promoção do país favorece negócios, ações e empréstimos
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Fonte: Valor Econômico, 02/05/2008, Finanças, p. C1

A Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR) já conta com o grau de investimento para conseguir condições mais favoráveis de financiamento para o pagamento do trecho oeste do Rodoanel, na região metropolitana de São Paulo, cuja concessão conquistou em março. A empresa financiará 80% dos R$ 2 bilhões que terá de pagar em até 12 meses.

"Nada foi contratado até o momento e teremos a oportunidade de testar os novos custos de captação", afirma o presidente da CCR, Renato Vale.

A empresa esteve entre as maiores altas da bolsa na quarta-feira, quando a euforia causada pela nota da agência de classificação de risco Standard & Poor's jogou para o alto ações dos setores de infra-estrutura, construção, bancos e varejo. A CCR subiu 15,60%, para R$ 32, a segunda maior alta do Índice Bovespa, logo atrás da incorporadora Cyrela.

A expectativa de executivos e investidores é de melhora geral no ambiente de negócios, com redução no preço dos financiamentos, aceleração no ritmo de fusões, aquisições e ofertas públicas de ações e maior atividade dos fundos de investimentos em participações, os "private equity".

"A partir de agora, o universo de investidores que se abre para as empresas do país é extraordinário, tanto para dívida quanto para ações", diz José Olympio Pereira, chefe do banco de investimentos do Credit Suisse no Brasil.

O executivo, que liderou boa parte das aberturas de capital nos últimos anos, está otimista com uma retomada das operações. "O mercado de IPOs [ofertas públicas iniciais de ações] está muito mais promissor do que ontem [terça-feira]."

O acesso ao mercado de capitais externo também deverá melhorar de imediato para as empresas, afirma José Luiz Acar Pedro, vice-presidente do Bradesco e responsável pelo banco de investimento BBI, Mas as que desejarem pegar empréstimo em moeda local aproveitarão o novo ambiente, pois os bancos repassarão aos contratos as taxas mais baixas obtidas nas captações fora do país.

"Os custos de financiamento e captação das empresas domésticas tendem a diminuir no médio prazo", concorda Nilson Teixeira, economista-chefe do Credit Suisse. "As instituições financeiras, provedoras de crédito, têm uma avaliação parecida com a das agências de risco e a sinalização é a de que haverá expansão e barateamento da oferta de empréstimos ao Brasil."

Alexandre Bettamio, chefe do banco de investimentos da Merrill Lynch no país, vê mais espaço para emissão de dívida do que lançamento de ações. Porém, ele acredita em um crescimento de emissões de companhias que já têm capital aberto. "As ações vão subir na bolsa e isso torna a capitalização via ações mais interessante."

Para ele, as maiores empresas do setor imobiliário estão entre as principais beneficiadas pelo grau de investimento, porque poderão contar com financiamento de longo prazo. Esses recursos também estarão disponíveis para os bancos, impulsionando as operações de crédito.

O setor imobiliário está bem posicionado no cenário traçado por Pereira, do Credit Suisse. "Tirando Vale, Petrobras, as empresas de papel e celulose e os bancos, que sustentavam o Ibovespa, havia uma desconexão entre o desempenho da economia e o valor das empresas na bolsa. Não era justificável que 80% das empresas que fizeram IPO estivessem negociando abaixo do preço de emissão." Diante da crise internacional de crédito, faltava um fator deflagrador que impulsionasse novamente as aberturas de capital.

Pereira avalia que empresas que almejavam abrir o capital poderão retomar o plano, embora o os investidores ainda tendam a manter uma seletividade. O executivo acredita que, com o grau de investimento, o volume das ofertas de ações poderá chegar a US$ 5 bilhões neste ano e, no próximo, será possível retomar ao patamar de 2006, algo como US$ 8 bilhões. Levará tempo, no entanto, para que o Brasil repita o ano de 2007, que foi excepcional.

Luiz Sedrani, superintendente de renda variável da Votorantim Asset Management (VAM), acredita que a valorização da bolsa levará os preços a novos patamares, o que poderá atrair novamente empresas para a abertura de capital. "Aquelas companhias que estavam pensando no processo agora deverão optar por seguir adiante", diz.

O economista do Santander Mauricio Molan é outro que aposta que o maior impacto da nota será no desenvolvimento do mercado de capitais, com cada vez mais empresas utilizando essa ferramenta de financiamento.

A redução do custo de capital terá efeito direto na valorização das empresas e na capacidade de costurar fusões e aquisições. "A ação é uma moeda de troca, o que pode favorecer as empresas no fechamento de negócios", diz Carlos Asciutti, sócio da consultoria e auditoria Ernst & Young.

O segmento de private equity se beneficiará, uma vez que os grandes fundos brasileiros poderão contar com recursos dos fundos de pensão americanos que exigem a nota para investir em um país. Esse capital de longo prazo, afirma Asciutti, é um efeito ainda mais positivo do que a alta imediata e efêmera das bolsas. "Esse fluxo renovado para os private equities poderá significar a manutenção do fluxo de IPOs na bolsa doméstica no decorrer dos anos", avalia.

Há muito esperado, e já antecipado por grandes empresas e bancos, o grau de investimento chega num momento de instabilidade do mercado mundial. "A classificação ratifica a percepção que os investidores já tinham", diz José Paulo Rocha, sócio de finanças corporativas da Deloitte. "Não estamos imune às crises, mas o mercado já reconhece que temos características próprias."