Título: Estilo dama de ferro
Autor: Leite, Larissa
Fonte: Correio Braziliense, 17/02/2011, Brasil, p. 11

A primeira mulher a ocupar o cargo de chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Martha Rocha, foi o foco do debate relacionado à segurança pública, ao longo do dia de ontem. A delegada assumiu o posto e, de imediato, definiu estratégias prioritárias para o melhor funcionamento da polícia estadual: o cumprimento de metas e resultados, a garantia da lisura de policiais e o fortalecimento da corregedoria. Martha foi nomeada oficialmente ontem, com a publicação de um decreto do governador Sérgio Cabral no Diário Oficial. A nomeação ocorreu paralelamente à exoneração do delegado Allan Turnowski, que deixou o cargo após desdobramentos da Operação Guilhotina ¿ conduzida pela Polícia Federal, pela Secretaria de Segurança Pública do Rio e pelo Ministério Público Estadual ¿ e de uma ação de investigação na Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) coordenada pelo próprio ex-chefe de polícia.

A delegada nomeada recebeu a primeira aprovação pública do governador do estado, que enfatizou benefícios de uma presença feminina no cargo: ¿A doutora Martha Rocha vai cumprir a missão dela com a doçura e a bravura de uma mulher, porque quando a mulher precisa é mais corajosa do que o homem¿, disse, em compromisso oficial. Cabral frisou que a delegada tem credibilidade e reconhecimento dentro da Polícia Civil. O secretário de segurança, José Mariano Beltrame, já havia anunciado a chegada de Martha com afagos: ¿A delegada tem uma história de 29 anos de polícia. Será muito difícil por estar substituindo um grande policial, um homem que deixou a sua marca. Mas ela é uma pessoa que está plenamente afinada com os propósitos e os horizontes que nós temos de segurança pública. Fiz várias consultas e pesquisas e o nome da senhora foi praticamente uma unanimidade¿, disse, no anúncio de sua chegada.

Martha Rocha respondeu à recepção com as primeiras mudanças práticas na estrutura da Polícia Civil. Já na primeira tarde no novo posto, ela anunciou alterações na equipe, retirando profissionais de confiança de Turnowski. Saíram da equipe, por exemplo, os delegados Rodrigo Oliveira e Ronaldo Oliveira. Os delegados ocupavam os cargos de subchefe operacional e de diretor geral de Polícia Especializada, respectivamente.

¿Fui subordinada aos dois. Agradeço o trabalho que fizeram dentro do Departamento¿, resumiu. Entre os convidados para compor uma nova equipe estão o delegado Sérgio Caldas (subchefe administrativo) e o delegado Fernando Velloso (subchefe operacional). Em princípio, o corregedor Gilson Soares será mantido no cargo.

Grampo no chefe De acordo com a Polícia Federal, a equipe que conduz a Operação Guilhotina ¿ que investiga o envolvimento de policiais com traficantes, milícias e a máfia caça-níqueis ¿ está concentrada na produção do inquérito sobre a investigação, que deverá ser entregue ao Ministério Público no início da próxima semana. No entanto, o ex-chefe de Polícia Civil do estado poderá ser ouvido novamente. Allan Turnowski seria indiciado por suspeita de vazamento de informações: ele teria sido flagrado em grampos telefônicos, alertando o inspetor Christiano Gaspar Fernandes sobre uma investigação da PF. A Polícia Federal não confirmou o indiciamento e não divulgou os grampos.

Crise de longa data O deputado estadual Marcelo Freixo (Psol-RJ), que presidiu a CPI das Milícias na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, avalia que a crise que atinge a segurança pública no estado está em evidência, mas assola a sociedade há muito tempo. Ele critica o que classifica como inoperância das corregedorias de polícia do estado, mas estabelece como positiva a escolha de Marta Rocha para a chefia de Polícia Civil. E se espalha confetes para Marta Rocha, abre ataque à gestão do último ocupante do cargo, Allan Turnowski, assim como à última operação comandada por ele, a investigação na Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco): ¿Foi claramente uma ação revanchista em função da Operação Guilhotina¿.

O Rio vem protagonizando grandes operações policiais desde o fim do ano passado. Qual a ¿idade¿ da crise na segurança pública? Está em crise há muitos anos. A história recente envolve crime, polícia e política. E isso não foi totalmente resolvido agora. Essa foi uma imagem que tentou ser vendida, principalmente com a ocupação do Complexo do Alemão, no qual se vendeu uma imagem de que o governo era outro, de que a polícia era outra, e de que abrimos uma outra etapa.

Nada mudou? Houve mudanças. O atual secretário de Segurança, só porque é honesto, já é muito melhor do que os outros. Mas na verdade isso não é mais do que a obrigação.

A Secretaria de Segurança atua em conjunto com a PF. Podemos ter a garantia de que essa secretaria está livre dos crimes investigados? Jamais podemos afirmar uma coisa destas, tanto é que o chefe da polícia está sendo investigado. O chefe da polícia é alto escalão. Na verdade, o próprio fato de que a PF está fazendo essa operação mostra que os setores de corregedoria e ouvidoria não funcionam.

A corregedoria é incapaz de fazer a investigação? Eu até entendo que uma investigação precisa de tempo. Mas a corregedoria não dava nenhum sinal de que começaria uma investigação.

Como o senhor avalia a gestão de Allan Turnowski? Foi um período curto e ele sai de uma maneira que é, no mínimo, complicada, com denúncias aparecendo. Não dá para achar que foi uma boa passagem.

Qual a sua opinião sobre a investigação na Draco? Foi claramente uma ação revanchista em função da Operação Guilhotina. Não dá para levar a sério um discurso de que uma denúncia anônima apareceu em casa.