Título: Construção e consumo ganham fôlego
Autor: Ragazzi , Ana Paula ; Anaya , Márcio
Fonte: Valor Econômico, 02/05/2008, Finanças, p. C5

O grau de investimento obtido pelo Brasil, em tese, beneficia todas as empresas do país, que terão custo de capital reduzido e maior visibilidade aos olhos do investidor global. Mas analistas identificam um impacto mais imediato da notícia em ações de empresas ligadas aos setores imobiliário, de consumo e financeiro. Já na quarta-feira, na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), os papéis de construção dispararam: Cyrela ON subiu 15,73% e liderou o Ibovespa; Gafisa ON avançou 14,06%.

O segmento reage à perspectiva de maior oferta de crédito, a custo menor, tanto na ponta do financiamento às empresas quanto no crédito ao consumidor. "Deverá crescer a expectativa de que o brasileiro realize o sonho da casa própria, optando por financiamentos de prazos cada vez mais longos", afirma Luiz Sedrani, superintendente de renda variável da Votorantim Asset Management (VAM).

Luís Largman, vice-presidente financeiro e diretor de relações com investidores da Cyrela, diz que o setor imobiliário será muito favorecido. "Em todos os países que receberam o grau de investimento houve uma apreciação muito forte do valor dos imóveis", afirma. De acordo com ele, haverá uma maior atração de investimentos ao país, que elevará a renda e aumentará a capacidade de compra de imóveis dos consumidores, aumentando os preços. "É um cenário muito positivo e olha que somos contidos em nossos comentários", diz. Ele espera forte crescimento do financiamento imobiliário, que hoje representa só 2,5% do PIB. "No México a proporção é de 9%, e aqui o grau de investimento fará com que haja muito mais ."

Catarina Pedrosa, analista-chefe da Banif Securities, acredita que os bancos devem inaugurar a nova fase de obtenção de recursos no exterior, a custos menores. Esse barateamento também deverá se refletir no aumento da oferta de crédito aos clientes, o que desenha as boas perspectivas tanto para as próprias instituições financeiras quanto para as empresas relacionadas ao consumo. No setor, Lojas Renner ON foi um dos destaques de alta do Ibovespa, na quarta-feira, com + 13,95%. A Cosan, que recentemente entrou no segmento de consumo ao comprar os ativos da Esso no Brasil, também disparou (15%).

Para Luiz Sedrani, superintendente da VAM, as empresas voltadas para a economia doméstica, como as de varejo, deverão reforçar tendência de consolidação, com mais acesso ao crédito e possibilidade maior de alavancagem, a condições mais favoráveis.

Ainda no segmento financeiro, além dos bancos, as bolsas também deverão se beneficiar do novo cenário. Rodrigo Boulos, diretor de tesouraria do Banif, acredita que as ações de Bovespa e BM&F poderão se valorizar com a perspectiva de mais negócios no país, tanto de novos investidores como de novas empresas acessando o mercado de capitais.

Embora a perspectiva seja favorável no geral, um setor da economia causa alguma preocupação, segundo o professor William Eid Junior, da FGV-SP. Trata-se do segmento exportador.

Com a entrada de mais dinheiro no país após o grau de investimento, o real pode se valorizar ainda mais diante do dólar, prejudicando as receitas em moeda estrangeira dessas companhias. A variação cambial já vem provocando chiadeira no setor. A Embraer, uma das grandes exportadoras nacionais, ficou com uma das duas baixas do Ibovespa na quarta-feira. A ação caiu 0,40%, para R$ 17,35. A outra queda foi de Sabesp (0,47%).