Título: Novo status não altera planos do Copom
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Fonte: Valor Econômico, 02/05/2008, Finanças, p. C7

Os analistas do mercado financeiro não acreditam que a promoção brasileira ao investment grade possa alterar os planos do Banco Central para a política monetária. A melhora do rating apenas invalida o cenário de aperto mais radical desenhado por uma parte do mercado, a que apostava em alta acumulada de até três pontos percentuais, com a Selic chegando ao final do ciclo de arrocho a 14,25%. Mas mesmo que ocorra uma apreciação cambial adicional por conta da mudança de nota, o BC não deve suavizar a sua intenção de elevar a taxa em até 2 pontos, para 13,25% até o fim do ano.

Os analistas descartam a possibilidade de o grau de investimento provocar uma avalanche de dólares sobre a economia brasileira. Para a economista-chefe do Banco Real, Zeina Latif, seria necessária nova e impressionante rodada de apreciação cambial para anular as preocupações inflacionárias do BC decorrentes do descompasso entre a demanda e a oferta.

O economista-chefe do Unibanco, Marcelo Salomon, acredita que haverá uma "troca de moeda" entre os hedge funds que já estão posicionados em ativos brasileiros e os fundos institucionais que só aplicam em países que detêm o grau de investimento. Não haveria o ingresso significativo de dinheiro novo. Os fundos de hedge, que, por possuírem estatutos mais flexíveis, puderam correr riscos e se antecipar ao novo rating, firmaram posições com o objetivo de revendê-las, depois do fato consumado, aos outros.

Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, o grau de investimento alivia um pouco o trabalho do Copom. "O câmbio vai se apreciar no curto prazo, mas acho que as condições para a inflação que ele está olhando não serão atenuadas. A inflação que vem de choques nas commodities e de demanda interna estão fora da alçada do investment grade", diz ele. Se nesse momento, compara o economista, os preços de tradeables constituíssem fonte de pressão importante aí sim seria uma complicação, mas não é o caso. De qualquer maneira, a sinalização que isso traz é que os juros não devem subir muito. "Quem estava com cenário muito hawkish deverá mudar sua posição. Nós estamos com 13,5% e não mudamos o cenário", diz Vale, que afasta completamente a necessidade de imposição de um controle de capitais para evitar uma apreciação cambial maior em decorrência do novo status externo. "A idéia do controle de capitais é esdrúxula. O argumento usado, de que o real apreciado está afetando a balança comercial, não convence porque o crescimento das importações vem do crescimento forte da economia e apenas em parte por conta do câmbio. Controle de capitais agora só iria trazer mais incertezas numa hora já de muita volatilidade", diz o economista da MB.

De acordo com a consultoria LCA, a decisão da S&P - que deverá em breve ser acompanhada por medidas semelhantes de outras agências de classificação de risco - tenderá a manter a cotação cambial doméstica sob pressão de valorização. Isso reitera a curva que ela projeta para o câmbio, que pressupõe dólar cotado a R$ 1,60 no final de 2008 e a R$ 1,55 no final do ano que vem. "Também reforça nossa expectativa de que, num contexto de diluição da instabilidade financeira externa e de acomodação nos preços internacionais das commodities, a taxa básica de juros poderá voltar a ser reduzida em médio prazo. Após um ajuste total de 150 pontos base a ser implementado até julho, a Selic voltará a ser reduzida a partir do segundo trimestre de 2009, devendo encerrar o ano que vem em 10,75% ao ano", diz relatório da consultoria.

Segundo Nicola Tingas, economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), não deve haver mudanças na política monetária por conta da obtenção do grau de investimento. Ele afirma que a elevação da nota é um reconhecimento da importância econômica do Brasil e da força e consistência da própria política econômica. Além disso, há uma certa euforia no curto prazo que eleva a propensão a consumir e que se soma a atual pressão de custos, mantendo a necessidade de atenção à inflação.

Há a expectativa de que a entrada de recursos possa derrubar ainda mais o dólar. Mas Tingas pondera que essa valorização do câmbio pode até mesmo ajudar no controle dos preços, como tem acontecido recentemente. Ele avalia ainda que a decisão da S&P amplia a necessidade de o país avançar nas reformas. "Temos a enorme oportunidade de fazer um ajuste fiscal efetivo no sentido da qualidade, com desoneração fiscal ampla e melhora nos gastos públicos. Isso cria condições de ampliação da oferta de forma mais rápida e com maior produtividade". Esse seria o cenário para se obter uma redução do juro real.

Silvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin diz que, no curto prazo, não há mudanças em termos de juros. "As notícias ainda são ruins e a decisão de elevação do rating brasileiro não reverte em nada a manutenção do aperto monetário". Já no médio prazo, completa ele, a entrada de capitais pode reduzir a pressão sobre os contratos futuros de juros mais longos.

Marcelo Ribeiro, estrategista da Pentágono Asset, acredita que a nova categoria não muda a trajetória dos juros internos. Para alterar a rota da Selic apenas uma abrupta queda das commodities, em especial de alimentos, acompanhada de uma desaceleração da economia brasileira. "Teria de ocorrer as duas coisas simultaneamente", diz Ribeiro. O estrategista também não vê uma enxurrada de dólares entrando no país. Na sua opinião, muito já havia sido antecipado e, desde o colapso do crédito subprime, os investidores deixaram de se guiar pelas classificações das agências de rating para alocar capital.