Título: Rating tem pouco efeito sobre ações do BC, diz Meirelles
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 02/05/2008, Finanças, p. C12
Ruy Baron/Valor O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles: investment grade em tese melhora a capacidade produtiva O grau de investimento concedido pela agência Standard & Poor's deverá ter pouco efeito sobre a política monetária implementada pelo Banco Central no curto prazo, mas poderá levar a economia a taxas de juros de equilíbrios mais baixas no futuro.
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirma que não é correto "singularizar" as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. "O câmbio é um mecanismo de transmissão da política monetária, mas não é o único", afirmou. "Existe uma série de fatores que são analisados a cada reunião do Copom".
"Eu não acho que [o grau de investimento] deve fazer muita diferença nas decisões do BC, já que a as perspectivas inflacionárias não devem ser muito afetadas por esse fato", afirma o economista Alexandre Schwartsman, do ABN AMRO, em comentário distribuído ao mercado.
No curto prazo, a contribuição que o grau de investimento poderia dar para aliviar a política monetária é por meio da taxa de câmbio. Em tese, o grau de investimento aumentará o fluxo de capitais para o Brasil, porque investidores institucionais que antes estavam impedidos de investir no país poderão fazê-lo.
Meirelles diz que não se pode dar como 100% garantida a conclusão de que o grau de investimento vai apreciar a moeda. "O dólar está depreciado hoje no mundo todo, e os Estados Unidos são grau de investimento", afirmou o presidente do Banco Central.
Ele reconhece que o Brasil tem uma dinâmica diferente, porque sai da situação de quem não tinha o grau de investimento para a condição de quem tem - e os investimentos tendem a aumentar, apreciando o câmbio.
Fazendo uma analogia com a engenharia, porém, ele ressalta que tal conclusão só vale se forem mantidas constantes as condições de temperatura e pressão. Segundo ele, há uma série de outros fatores que determinam a cotação do dólar: 1) o real se apreciou bastante nos últimos anos; 2) o quadro das contas externas é diferente do observado no passado; 3) o Brasil cresce a taxas mais elevadas; 4) o contexto mundial é de maior instabilidade. Meirelles cita um fato concreto: as condições econômicas do Japão, nos últimos anos a origem de operações de "carry trade", tem hoje condições econômicas menos favoráveis.
Entre economistas do setor privado, também há dúvida se o grau de investimento vai ter efeito relevante sobre o câmbio. O mercado já vinha antecipando a possibilidade de o país subir na classificação das agências de risco. Alguns investidores, incluindo alguns hedge funds, comparam ativos justamente contando com a hipótese de vendê-los para os institucionais.
De qualquer forma, não é possível descartar um possível aumento do fluxo líquido de investimentos, que apreciaria ainda mais o câmbio. Confirmada essa hipótese, o câmbio mais apreciado ajudaria, mas talvez não resolveria o problema inflacionário.
O Copom diz em sua ata de abril que decidiu iniciar um ciclo de alta de juros com dois objetivos: 1) contribuir para a convergência entre o ritmo de expansão da demanda e da oferta; 2) evitar que pressões originalmente isoladas sobre preços levem à deterioração persistente nas expectativas de inflação do mercado.
A questão é o quanto o grau de investimento afeta esses dois fatores. Em tese, caso a taxa de câmbio fique mais apreciada, cairá a demanda externa. Mas o principal problema visto pelo Banco Central é a demanda interna, puxada pelo aumento da renda, emprego, crédito e impulsos fiscais.
As indicações são também que o câmbio mais apreciado teria efeito limitado nas expectativas de mercado. Economistas heterodoxos sustentaram, por algum tempo, a tese de que o câmbio é o principal determinante das expectativas. Essa leitura perdeu força no ano passado, quando a expectativa de inflação subiu enquanto o dólar se valorizava. De abril a dezembro de 2007, o dólar se valorizou 12,7%, passando de R$ 2,03 para R$ 1,77, enquanto a expectativa de inflação para os 12 meses seguintes subiu de 3,6% para 4,48%.
Apesar de aliviar pouco a política monetária no curto prazo, porém, a tendência é que o grau de investimento tenha um efeito mais positivo no médio e longo prazo - baixando a chamada taxa de juros de equilíbrio, ou seja, aquela que não acelera nem reduz a taxa de inflação.
Em texto publicado em fins de 2007 pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), os economistas Edmar Bacha, Marcio Holland e Fernando Gonçalves procuraram medir, a partir de dados de 66 países, os principais determinantes da taxa de juros de equilíbrio. A conclusão deles é que o grau de investimento é um dos fatores mais importantes. Pelo estudo, o grau de investimento levaria a uma queda de cerca de dois pontos percentuais na taxa real de juros de equilíbrio.
O problema é que, quando fizeram o estudo, os economistas descobriram que, naquele momento, a taxa de juros definida pelo Banco Central estava bem acima da taxa de juros de equilíbrio prevista pelos modelos econométricos - ou seja, entre previsão e realidade, vai uma grande distância.
Meirelles não fez previsões sobre os efeitos do grau de investimento sobre a taxa de juros de equilíbrio. Ele reconhece que, em tese, deverá favorecer o aumento da capacidade produtiva na economia, na medida em que irá atrair mais investimentos estrangeiros. Mas ele pondera que, da mesma forma que não se pode singularizar o efeito do grau de investimento para a política monetária de curto prazo, não seria correto fazê-lo para prazos mais longos. "Outros fatores atuam permanentemente para determinar fatores como PIB potencial e os juros de equilíbrio", disse o presidente do BC.