Título: FHC desmonta acordo e articula fracasso governista
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 17/02/2005, Política, p. A6

O novo presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), telefonou ontem à tarde para o escritório político do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em São Paulo. A ligação foi relatada pelo governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), que estava na sala durante o telefonema, e também aproveitou sua visita à cidade para encontros com outros dois presidenciáveis em 2006: Geraldo Alckmin e José Serra. O teor da conversa não foi divulgado, mas Perillo disse que o PSDB terá um candidato "competitivo" nas eleições de 2006. Liderada pelo ex-presidente Fernando Henrique, a oposição foi decisiva para a derrota sofrida pelo PT na disputa da presidência da Câmara. A avaliação foi feita pela cúpula do partido e também durante reunião, no Palácio do Planalto, poucas horas depois da eleição concluída na madrugada de terça-feira. Na opinião dos petistas, o malogro do candidato Luiz Eduardo Greenhalgh começou a ser construído no sábado passado. No dia anterior, os principais dirigentes do PT estavam prestes a fechar dois acordos com a oposição, para sacramentar o apoio ao candidato oficial do governo. Ao PSDB, o PT fez duas ofertas. A primeira era que, uma vez eleito, Greenhalgh daria ao deputado Custódio Mattos (MG), líder dos tucanos na Câmara durante o último ano legislativo, o cargo de ouvidor-geral. Além disso, o PT se comprometeu a apoiar formalmente a eleição do candidato de Alckmin à presidência da Assembléia Legislativa de São Paulo, o deputado Edson Aparecido (PSDB), definido ontem pela bancada. Para assegurar que o acordo, em São Paulo, seria cumprido, a cúpula do PT costurou o apoio a Alckmin na bancada petista e informou aos tucanos que o líder do partido na Assembléia, Cândido Vaccarezza, viria a Brasília confirmar o acerto. Em São Paulo, dois tucanos importantes - o prefeito José Serra e seu secretário de governo, Aloysio Nunes Ferreira - viam com bons olhos esse acordo. Na manhã de sábado, tudo caminhava para uma definição em favor de Greenhalgh. O problema é que, numa conversa com o presidente do PT, José Genoino, o presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG), disse que o governador Alckmin pediu que a eleição na Assembléia ficasse de fora do acordo. Aquele foi um sinal de que não haveria acordo algum. Para os petistas, a posição de Alckmin foi acertada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que passou o fim de semana costurando apoios à candidatura do pefelista José Carlos Aleluia (BA). O movimento no PSDB prejudicou, por sua vez, o acordo que a cúpula petista estava negociando com o PFL. Com os pefelistas, a possibilidade de um acerto cresceu depois que Virgílio Guimarães (PT-MG), o petista dissidente, decidiu buscar apoio à sua candidatura junto ao ex-governador Anthony Garotinho (PMDB), desafeto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e principal adversário do prefeito Cesar Maia (PFL) no Rio de Janeiro. Na última semana antes da eleição, Cesar Maia fez gestões para que José Carlos Aleluia desistisse de sua candidatura, em favor de Greenhalgh. O temor do prefeito carioca era que a vitória de Virgílio ajudasse a fortalecer Garotinho, num momento em que ele vem de um fracasso - a gestão à frente da Secretaria de Segurança Pública no Estado do Rio, no governo de sua mulher, Rosinha Matheus. O entendimento do PT com o PFL previa o compromisso de Greenhalgh em dar prioridade a três questões: a realização da reforma política, a mudança do regimento para alterar a forma de elaboração do orçamento e a instituição do rodízio para os integrantes da Comissão de Orçamento. A reforma política interessa aos pefelistas justamente pela mesma razão que sempre interessou ao PT: a adoção da fidelidade partidária. Na avaliação do PFL, quando Lula chegou ao poder, o PT, ao estimular a migração de deputados dos partidos de oposição para os de sua base aliada, ajudou a enfraquecer as siglas, principalmente o PFL e o PSDB. O PFL, por exemplo, elegeu 84 deputados federais em 2002, mas hoje conta com apenas 62. Se adotada legalmente, a fidelidade partidária poderia impedir isso. No sábado, um possível acordo começou a ruir. Novamente, Fernando Henrique e o presidente licenciado do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), teriam atuado nos bastidores para impedir que Aleluia abrisse mão de sua candidatura. Na noite de domingo, durante jantar em Brasília, a cúpula do PFL selou o destino de Aleluia, mantendo-o na disputa. "O núcleo duro do PSDB e do PFL atuou contra um acordo institucional que preservaria a proporcionalidade na Mesa da Câmara", queixa-se um dirigente do PT. No fim de semana e na segunda-feira, um tucano paulista, supostamente a serviço do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, telefonou tanto para Virgílio quanto para o então candidato Severino Cavalcanti (PP), informando-os de que os votos do PSDB iriam para as suas candidaturas. Quando a eleição foi para o segundo turno, na madrugada de terça-feira, o PT ainda almejou obter apoio do PFL. Greenhalgh procurou o deputado ACM Neto (PFL-BA), seu amigo pessoal, e depois o líder do partido, Rodrigo Maia (RJ). Reunido com seus colegas de partido, Maia preferiu ir ao encontro do candidato petista, em vez de recebê-lo com a bancada. Aquele foi, para os petistas, o sinal definitivo de que Greenhalgh não receberia o apoio do PFL.