Título: Área de pesquisa recebe 220 milhões de euros
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Fonte: Valor Econômico, 05/05/2008, Empresas, p. B1

Em 1919, o médico Isaac Carasso fabricou o primeiro iogurte Danone e começou a vendê-lo em farmácias de Barcelona, principalmente para crianças com problemas de saúde. A experiência inspirou seu filho Daniel Carasso, hoje com 103 anos, a criar em 1929 a Sociedade Parisiense do Iogurte Danone. A curiosa história, da gigante francesa que nasceu na Espanha, é contada por seus executivos para reafirmar a aptidão da companhia para produzir alimentos voltados à saúde.

As recentes mudanças na Danone, como a venda da divisão de biscoitos e a compra da Numico, são os passos mais visíveis nessa estratégia de se tornar uma empresa de "alimentação saudável". Mas, com menos alarde, o que a Danone tem feito com esse objetivo é um investimento forte em pesquisas sobre os probióticos - microorganismos que, quando administrados em quantias adequadas, beneficiam a saúde, como define a Organização Mundial de Saúde (OMS).

"Ciência é a base do nosso negócio", afirma Gérard Denariaz, diretor da plataforma de probióticos e microbiologia do Danone Research - Centre Daniel Carasso. Este ano, os investimentos da Danone em pesquisa devem alcançar ? 220 milhões de euros. No ano passado, foram ? 140 milhões de euros. O orçamento cresceu graças também à aquisição da Numico, que tem uma área de pesquisas forte.

O centro de pesquisas da Danone em Palaiseau, nos arredores de Paris, foi criado em 2002 e conta com 350 cientistas, trabalhando na busca de novos probióticos. Lá estão armazenadas 3.600 cepas de microorganismos para estudo. O primeiro desses microorganimos foi isolado em 1919. As pesquisas de novos probióticos também incluem estudos clínicos para testar a eficácia dos produtos ao redor do mundo. Este ano, 50 devem ser realizados, prevê a empresa.

Além de seu próprio centro de pesquisas, a Danone também tem, há três anos, uma parceria com o Instituto Pasteur de Paris, para descobrir novos probióticos. Denariaz explica que o Instituto Pasteur faz pesquisa básica, isto é, descobre como os microorganismos atuam. Já a Danone, diz, "é capaz de fazer o 'link' entre a ciência básica e transformá-la em algo que seja aplicável nos alimentos".

Entre as pesquisas realizadas atualmente dentro dessa parceria estão a de um novo teste para selecionar bactérias de probióticos que podem ser úteis contra outras bactérias, vírus e parasitas. Segundo Denariaz, há também estudos para entender os mecanismos por trás da ação dos probióticos e, finalmente, Danone e Pasteur tentam definir o genoma dos probióticos. O objetivo é classificar as diferentes cepas e suas características.

Conforme o diretor do Danone Research, na atual fase da parceria, ainda não há desenvolvimento de produtos. "Estamos na fase de entender e selecionar as cepas".

Diante do número imenso de microorganismos existente na flora intestinal, Deniaraz diz que o potencial para encontrar novos probióticos é grande. Ele conta, por exemplo, que estudos começam a mostrar algumas ligações entre os microorganismos do intestino e obesidade. "Começamos a ver que as pessoas que são obesas têm a flora intestinal diferente das pessoas magras". A razão disso ainda é desconhecida.

Com descobertas como essas, no futuro, será possível "desenhar" alimentos para um determinado tipo de flora intestinal, disse Denariaz, em entrevista, após cerimônia em Paris para comemorar os 120 anos do Instituto Pasteur e o centenário do Prêmio Nobel do cientista russo Elie Metchnikoff.

Ambos foram fundamentais para a Danone. No século 19, Pasteur fez estudos sobre a fermentação. Já Metchnikoff, considerado pai dos probióticos, fez pesquisas no instituto Pasteur no fim do mesmo século e foi o primeiro a investigar os benefícios das bactérias lácticas para a saúde humana. (AAR)